Viagem numa chávena de café: Descubram os segredos da Etiópia
País abençoado por paisagens incríveis, com planícies áridas e montanhas espetaculares, áreas verdes exuberantes e vastos lagos, a Etiópia guarda muitos segredos que remontam ao inicio da humanidade e um em particular que revolucionou a forma como milhões de pessoas à volta do mundo começam as suas manhãs — O café!
Foto: PxHere
Conta-se que o café foi descoberto na Etiópia no dia em que Kaldi, um pastor abissínio de Kaffa, se apercebeu que as suas cabras estavam a comportar-se de maneira estranha, pulando e balindo alto e praticamente dançando nas patas traseiras.
Curioso, Kali seguiu os passos dos animais e descobriu que a fonte da sua excitação era um arbusto com bagas vermelhas brilhantes. Sem medo, resolveu experimentar ele mesmo os pequenos frutos e, como as suas cabras, sentiu o efeito energizante das cerejas do café.
Entusiasmado, encheu os bolsos e correu até um mosteiro que ficava próximo, para compartilhar com os monges esses frutos "enviados dos céus”.
Ao chegar ao mosteiro, porém, os grãos de café de Kaldi não foram recebidos com alegria, mas com desdém e preocupação. Um monge chamou-lhes de "obra do Diabo" e atirou o café para o fogo. No entanto, segundo a lenda, o aroma dos grãos torrados foi o suficiente para que os monges se arrependessem. Retiraram os grãos do fogo, esmagaram-nos para apagar as brasas e cobriram-nos com água quente. O aroma agradável espalhou-se pelo mosteiro e todos os monges vieram experimentar a nova bebida.
Rapidamente perceberam que o café os ajudava a ficarem acordados durante a sua prática espiritual e juraram que a partir dessa data, o beberiam todos os dias da sua vida.
… E assim nasceu uma prática que conquistou adeptos em todo o mundo.
O café etíope, de espécie arábica, é considerado um dos melhores cafés do mundo. É plantado entre os 1.500 e os 2.000 metros (ou mais), acima do nível do mar, em lugares como Sidamo, nas terras altas ao sul do Lago Awasa ou na zona montanhosa de Yirgacheffe, onde beneficia de solos férteis e condições climatéricas perfeitas. Dá trabalho a milhões de pessoas o que só por si justifica a expressão popular: “buna dabo naw”, que se traduz literalmente como “o café é o nosso pão”.
É uma cultura que influencia vários aspetos da vida quotidiana, económica e até da gastronómica da Etiópia, servindo de inspiração a sobremesas deliciosas como a mousse de café etíope com caramelo de banana (inserir link para a receita) ou a rituais sociais como a jebena buna — a cerimónia do café etíope.
Sensual, rica e demorada, jebena buna, não é para quem tem pressa, ou para quem tem uma tolerância baixa à cafeína, mas, tal como a bebida que está na sua origem, é uma experiência a ser saboreada devagar. É um evento alegre, onde as pessoas se juntam para conversar e conviver.
A cerimónia começa com a anfitriã, sempre uma mulher, espalhando no chão e na mesa uma variedade de ervas frescas e flores. Um queimador de incenso, normalmente preenchido com olíbano ou sândalo, é aceso, enchendo o ar com aromas agradáveis. Em seguida, os grãos de café crus são lavados e depois torrados numa panela sobre o fogo alto a carvão. Frequentemente, a anfitriã encoraja os convidados a cheirar os grãos, segurando a panela diante dos seus narizes. O cheiro do café, misturando com o incenso, cria um efeito inebriante.
Os grãos são retirados do fogo, moídos vigorosamente com pilão e almofariz, e depois adicionados à "jebena" — uma chaleira com água a ferver. A jebena é colocada novamente sobre o carvão e assim que o café fica pronto, a anfitriã derrama-o cuidadosamente em chávenas pequenas e sem asa. O café é amargo, espesso e forte, mas o seu aroma é inconfundível!
Usando os mesmos grãos, o processo é repetido mais duas vezes. Entre chávenas, mais água é adicionada para reabastecer a jabena e normalmente, algumas colheres cheias de açúcar são juntas para adoçar o café. Isto continua até que a cerimónia esteja concluída. Todo o ritual pode levar bem mais do que uma hora, mas é uma experiência inesquecível.
Em nossa casa, a experiência pode não ser tão demorada, mas o essencial permanece.
O café etíope tem, literalmente, a capacidade de nos transportar à origem de tudo. Uma chávena quente pode levar-nos, por exemplo, numa viagem até Hadar onde foi descoberto o fóssil australopiteco de Lucy, que estabeleceu a Etiópia como o berço da humanidade, ou até às paisagens surreais e coloridas de Dallol, o lugar com a temperatura média mais alta do planeta.
O seu sabor intenso recorda-nos o caldeirão de diferentes culturas que é este país, com mais de 80 grupos étnicos e línguas faladas e uma tradição cristã ortodoxa e muçulmana antiquíssima. Conduz-nos até Lalibela um local de peregrinação extraordinário que abriga 11 igrejas monolíticas esculpidas inteiramente na rocha ou até aos impressionantes monumentos de Axum que testemunham a grandeza do antigo reino Aksumita.
O seu aroma floral invoca as Cataratas do Nilo Azul; as montanhas de Semien, também chamadas de Teto da África ou a Floresta verdejante de Harenna, no Parque Nacional das Montanhas Bale — a mais bela paisagem montanhosa de África.
Saborear café etíope, como o que chega até nós através da Delta Q Origens Ethiopia — um expresso aromático, de sabor suavemente floral, resultado de métodos naturais de cultivo e da ação dos agricultores etíopes, que com cuidado viram as cerejas de café à mão, para garantir que a secagem é homogénea e não danifica o grão — é um prazer e uma experiência única que ajuda a aprofundar o nosso vínculo a esta bebida ancestral e ao país onde tudo começou!
Artigo patrocinado por Delta Q Origens e publicado originalmente no SAPO Viagens