Um elefante nunca esquece!
Quem não gosta de elefantes? já imaginaram passar um dia inteiro com um?
Pois eu viajei de propósito para Chiangmai, na Tailândia para ter essa experiência,
Créditos das imagens: Travellight e H.Borges
Pesquisei bastante antes de visitar Patara Elephant Farm, isto porque, como amante da vida animal não queria de forma nenhuma visitar um local onde os elefantes não fossem bem tratados.
A decisão não é fácil, o turismo animal é uma parte importante da economia Tailandesa e culturalmente a forma como os elefantes são vistos no país (e um pouco por toda a Ásia) choca um pouco com a visão dos que defendem o respeito e a preservação de todas as espécies. O Elefante, apesar de ser considerado um animal sagrado, é visto como um animal de trabalho, um instrumento, algo sem sentimentos, que é para ser usado e abusado...
Podemos sempre optar por só ver estes animais em parques naturais e no seu ambiente natural, e talvez isto seja mesmo o mais correcto. Eu tendo experimentado as duas coisas prefiro a primeira, mas também considero que a interacção positiva com animais em vias de extinção é muito importante para a sua preservação.
As crianças, os jovens ou mesmo os adultos, não vão querer matar algo que conhecem bem, com quem criaram laços, que conhecem pelo nome próprio.
E depois os verdadeiros santuários acabam por dar emprego a muita gente que de outra forma iria explorar o animal de outras formas mil vezes piores. Pode ser talvez ingenuidade minha mas considero estes santuários, pelo menos os que tem provas dadas na preservação de uma espécie, um mal menor.
Graças a Deus aos poucos os esforços de preservação estão a começar a ter algum efeito mas ainda há muito a fazer para mudar mentalidades.
Escolhi Patara Elephant Farm porque era aquele que, de tudo o que li, parecia reunir as melhores condições para os animais e ainda assim vi lá algumas coisas de que não gostei, mais adiante explico-vos.
A primeira impressão do local foi fantástica pois assim que cheguei fui apresentada a um elefante recém nascido (só tinha um mês) que junto de sua mãe corria livremente pelo terreno metendo-se com toda a gente que encontrava à procura de brincadeira, 😄.
Era pequenino mas já tinha muito peso e um pequeno toque dele quase levou-me ao chão, (o que também não é difícil considerando que sou uma meia-leca 😜)
Após este momento de grande diversão um dos fundadores do santuário fez uma apresentação de cerca de uma hora sobre as condições de vida dos elefantes na Tailândia, sobre os abusos que os pobres animais sofrem e sobre os esforços de conservação da espécie e deu-nos alguma informação, exemplificando, a forma como podemos verificar se um elefante é saudável, está bem cuidado e é feliz.
Os elefantes que encontramos na fazenda, segundo nos disseram, foram resgatados de outras fazendas onde eram maltratados ou foram abandonados por proprietários que já não podiam mantê-los.
A família que gere esta fazenda considera-se apenas a zeladora dos elefantes que estão no local - e não a proprietária deles, mas a verdade é que confessaram-nos que à noite os animais são acorrentados para não deambularem para fora do local, as correntes são longas e permitem ao animal movimentar-se mas ainda assim, não gostei muito de ouvir isto... 😕
Segundo foi-nos explicado esta política foi imposta depois de ocorrer um acidente em que um elefante chocou com um carro numa estrada perto da fazenda. O elefante sobreviveu ao acidente; mas o condutor infelizmente não.
Também foi-nos explicado que na Tailândia o numero de elefantes baixou para quase metade nos últimos 30 anos por isso a saúde, reprodução e longevidade dos animais são as principais missões deste santuário, que apresenta taxas muito positivas de sucesso.
Elefantes tendem a morrer de desnutrição, infecções da pele, e problemas mentais, assim estes são os principais focos de atenção no cuidado com o elefante.
A fazenda só permite um numero reduzido de visitantes por dia, tens de fazer a reserva on-line com muita antecedência para conseguir um lugar. No programa em que participei é atribuído a cada um "o seu próprio elefante" o que basicamente significa que enquanto estiver na fazenda o participante tem a seu cargo a alimentação, banho e exame de saúde do seu elefante.
O animal é escolhido de acordo com a nossa altura e personalidade, a pessoas com uma personalidade mais tímida, por exemplo, são atribuídos elefantes mais sossegados e de temperamento mais calmo.
Eu fiquei com um jovem elefante chamado Shampoo 😊
Para criar um laço com o animal a primeira coisa que nos pedem para fazer é alimenta-lo com bananas e cana do açúcar.
Ao mesmo tempo ensinam-nos comandos básicos de voz para lidar com estas adoráveis criaturas.
Segue-se depois o exame de saúde para saber se o elefante está saudável e feliz:
Devemos caminhar à volta do animal para observar o seu comportamento - se ele estiver a abanar as orelhas e a bater o rabo é sinal de que está feliz.
Devemos verificar se os olhos do elefante são brilhantes e claros e não estão com secreções em excesso. Olhos baços indicam doença ou dor. As orelhas também não devem ter quaisquer secreções ou mau cheiro.
Para ter certeza de que não há erupções cutâneas ou crescimento de fungos no corpo de um elefante, a pele deve também ser examinada com cuidado assim como as cutículas em torno das unhas. Por último temos de verificar o cocó do animal que se for saudável não cheira mal.😝
O passo seguinte é limpar o animal, sacudir a terra do seu corpo e depois dar-lhe um banho e escova-lo bem.
Depois de terminado este processo podemos, se quisermos, montar o elefante - mas sem sela.
Foi-nos explicado que as selas e cadeiras são muito pesadas e magoam muito o elefante fazendo a sua coluna ficar torta, por isso não são permitidas na fazenda.
Eu resolvi experimentar, e subi para cima do elefante e fiquei nos seus ombros.
O Shampoo era um elefante jovem, ainda baixinho mas ainda assim quando subi para cima dele pareceu-me que estava tão no alto 😮
Montar o elefante foi uma experiência única... o trilho levava-nos pelas montanhas e a vista era deslumbrante. O dia estava encoberto e quente mas havia muito nevoeiro e isso criava um ambiente quase mágico! Eu senti-me verdadeiramente abençoada por poder estar ali 😊
De repente começou a chover e o caminho ficou todo enlameado e os elefantes começaram a escorregar. Aí pensei - ok, vou cair pela ravina e a minha vida acaba aqui! Morro agora, mas morro feliz!
Para minha sorte o Shampoo tinha um grande equilíbrio e conseguimos chegar ao nosso destino sem qualquer acidente😄
Uma das coisas que não gostei durante a experiência foi a forma como os mahout (instrutores) tratavam os elefantes. Algumas vezes para fazer mexer o elefante, quando este não queria, o mahout puxava pelas orelhas do animal. Eu perguntei se isso não magoava e eles insistiram que não, mas a mim custou-me muito a acreditar nisso 😒
Normalmente, um mahout começa criança na profissão familiar e é-lhe atribuído um elefante jovem para treinarem. Por isso a forma como tratam a criatura é uma questão cultural. Acredito que para eles puxar a orelha do animal é perfeitamente normal e provavelmente eles também não percebem a nossa sensibilidade ocidental.
Por mais de uma vez pareceu-me que as atracções na fazenda eram os próprios visitantes, tal era a forma como os mahouts pareciam olhar para nós. Acho que para eles é incompreensível alguém pagar para dar banho aos elefantes e cheirar o seu cocó!
Acho o esforço de conservação muito importante, e locais como Patara necessários, mas também acho que tem de se investir mais na educação pois é a única forma de alterar crenças enraizadas. De que serve ter um santuário se depois algumas das pessoas que trabalham nele e que estão em contacto directo com os elefantes, não compreendem a importância nem o porquê do que estão a fazer?
No geral foi uma experiência incrível onde senti que aprendi algo de importante e tive oportunidade de conhecer de perto uma das criaturas mais belas do planeta.
Dizem que os elefantes nunca esquecem, espero que o Shampoo nunca se esqueça de mim da mesma maneira que eu nunca me vou esquecer dele!
Sigam as minhas aventuras mais recentes no Instagram e no Facebook
Tchau!
Travellight