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The Travellight World

Inspiração, informação e Dicas de Viagem

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Qui | 28.01.21

Regresso à Cidade do Leão

asia_sea_lion_core_zone_lion_the_business_park_fountain_river-783713.jpg!dFoto: PxHere

Miss, miss, please, you need to put your seat up

A voz da hospedeira tirou-me da terra dos sonhos. Endireitei a cadeira, estiquei as pernas e espreitei pela janela.

Amanhecia em Singapura. Tinham sido 12 horas e meia de voo desde Paris, mas ali estava eu, de volta à Lion City!

Cansada, mas feliz, atravessei o movimentado Aeroporto de Changi, um dos maiores (e melhores) aeroportos do mundo.

Dirigi-me à saída com a minha mala de mão. As portas abriram-se e o calor quente e húmido de Singapura atingiu-me no rosto como uma bofetada. Já esperava que estivesse quente, mas não tão quente…

Procurei um táxi e segui para o Fullerton Bay Hotel. O meu “taxi uncle” (termo pelo qual são conhecidos os taxistas em Singapura), era muito falador. No seu singlish carregado (dialeto que combina o inglês com uma mistura de palavras e frases chinesas, malaias e tamil) fez-me saber que o clima andava uma loucura, que o transito estava cada vez pior e que o seu primo acabara de abrir um restaurante de comida indiana que eu tinha mesmo de visitar.

O “tio do táxi” era simpático, mas eu, depois de tantas horas de voo, não me sentia com forças para lhe dar grande conversa. Para não ser mal educada, fui respondendo com monossílabos e sem grande entusiasmo, até chegar ao hotel. Agradeci com um sorriso o cartão do restaurante do primo, que ele me passou para a mão, prometi que lá ia, paguei e desci.

Era cedo para fazer o check-in, mas como o quarto estava disponível, pude entrar logo.
O Fullerton é um belo hotel localizado na orla marítima de Marina Bay. Tem vista para as águas cintilantes e para alguns dos pontos turísticos mais icónicos de Singapura. É uma boa base para explorar a cidade.

Já no quarto, tomei um duche rápido. Ainda olhei para a cama… o corpo pedia uma meia hora de descanso, mas fiz um esforço para não ceder à tentação. Tinha um encontro marcado no Common Man Roasters — o melhor lugar da cidade para um pequeno almoço ou brunch, e não podia deixar a preguiça vencer.

Já estavam à minha espera.

Enquanto punha a conversa em dia, pedi o menu turco: ovo orgânico em massa filo, queijo feta, pepino e tomate frescos, azeitonas e homus com pão pita, panquecas com banana caramelizada, nozes, doce de frutos silvestres e molho de caramelo salgado. Ok, agora sim! Estava com forças para o resto do dia :-)

Singapura é muitas vezes vista apenas como uma cidade moderna, superficial, sem graça, cheia de arranha-céus e infraestrutura sofisticadas. Mas passada a primeira impressão, esta cidade-estado que (depois de muitas paragens a caminho de outros destinos) eu aprendi a amar, revela-se um verdadeiro melting pot de culturas, costumes e tradições.

Hoje, para mim, Singapura já não é só um stop-over. É um destino fascinante por direito próprio.

O título de Lion City (“Singa Pura” significa “Cidade do Leão” em sânscrito) assenta-lhe bem. Afinal esta pequena cidade-estado percorreu um longo caminho para se transformar naquilo que é hoje.

Graças à sua localização estratégica, Singapura sempre foi importante, mas a modernidade que a define nasceu da política, do comércio e da visão de homens como Sir Thomas Stamford Raffles, que reconhecendo o imenso potencial desta ilha coberta de pântanos, ajudou a negociar um tratado com os governantes locais e estabeleceu Singapura como um entreposto comercial. A partir daí a cidade cresceu rapidamente, atraindo imigrantes da China, da Índia, do Arquipélago Malaio e muitos mais.
Acabou organizada em quatro zonas: O lado europeu, onde habitavam os comerciantes europeus e asiáticos ricos; Chinatown e o sudeste do rio Singapura, onde residiam os chineses; Chulia Kampong onde ficavam os indianos; e Kampong Gelam que abrigava a população muçulmana, os malaios e os árabes.

A prosperidade de Singapura sofreu um duro golpe durante a Segunda Guerra Mundial, quando foi atacada pelos japoneses e rebatizada de Syonan-to (ou “Luz da Ilha do Sul” em japonês).
No fim da guerra, em 1945, a ilha foi entregue à Administração Militar Britânica e mais tarde à Coroa Inglesa.
Em 1963, integrou a Federação da Malásia, mas a fusão correu mal e dois anos depois Singapura abandonou a Federação e transformou-se numa nação independente e soberana.

Hoje, esse passado multicultural, colonial e de guerra está preservado dentro e ao redor da cidade e pode ainda ser sentido nas ruas, observado nos edifícios ou visitado em museus, monumentos e memoriais.

Principalmente em lugares como Chinatown, Little India ou Arab Street.

fullsizeoutput_5545Foto: Travellight

Naquele dia eu estava com uma amiga que trabalhava próximo do Buddha Tooth Relic Temple em Chinatown, por isso depois do brunch, acompanhei-a até lá e depois de nos despedirmos, resolvi entrar no templo que apresenta exposições de arte e história budista. O seu curioso nome deve-se à relíquia de um dente que se diz ter pertencido a Buda. Esta relíquia está guardada numa estupa (espécie de pagode) feito de 320 kg de ouro e apenas os monges tem acesso a ela. Os visitantes, no entanto, podem ver a relíquia do dente da área de exibição pública.

O Buddha Tooth Relic Temple não é antigo, mas alguns edifícios deste bairro remontam ao tempo dos primeiros imigrantes chineses e merecem a atenção de quem se interessa por arquitetura.

fullsizeoutput_5547Foto: PxHere

Atrás do templo fica um dos melhores lugares para comer em Singapura — o Chinatown Food Center Complex. Eu, claro, tinha de passar por lá :-)

Apanhei de seguida o metro (MRT) e depois de uma curta viagem cheguei a Little India. Tal como Chinatown, Little India é uma das áreas mais coloridas da cidade. Lembrei-me do “tio do táxi” e do restaurante do primo. Tentei encontrar o espaço e passei pela espantosa fachada do Templo hindu Sri Veeramakaliamman, um dos mais antigos de Singapura.

fullsizeoutput_553bFoto: Travellight

Caminhei pela Serangoon Road, a avenida principal de Little India, e parecia que estava em Mumbai (mas mais organizado e muito mais limpo). Cores fortes, casas de tandoori, lojas de saris, uma academia de dança que ensinava os ritmos de Bollywood…
… só o restaurante do primo é que nada. Como não me apetecia perguntar onde ficava a rua (não sou daquelas pessoas que perguntam direções), decidi deixar para outro dia.

Little India fica a cerca de 20 minutos a pé de Kampong Glam, uma área importante para as comunidades árabe e malaia de Singapura. Resolvi ir até lá também.

Caminhei pela Haji Lane, uma rua estreita cheia de lojinhas, cafés e impressionante arte urbana, vi a Masjid Sultan, uma mesquita com uma enorme cúpula dourada, construída no século XIX e já na Arab Street não resisti a entrar numa loja de tapetes. Os preços, porém não eram nada convidativos, por isso não me demorei muito lá dentro…

Apanhei o MRT novamente e saí em Orchard Road. Entrei num centro comercial para escapar ao extremo calor e humidade que se faziam sentir. Vi umas montras, comi um gelado e depois resolvi regressar a Marina Bay. Queria descansar um pouco.

Sai na estação Raffles Place e no caminho para o hotel ainda parei junto da estátua do Merlion, essa estranha criatura com corpo de peixe e cabeça de leão.

Olhei a linha do horizonte, cheio de arranha-céus modernos. Sorri...

A noite prometia muita animação :-)

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