Parque Nacional Peneda - Gerês | Um paraíso natural a norte de Portugal
O Parque Nacional Peneda-Gerês estende-se do planalto de Castro Laboreiro ao da Mourela, abrange as serras da Peneda, do Soajo, Amarela e do Gerês, é recortado por dois grandes rios — o Rio Lima e o Rio Cávado, e atravessa nada menos do que cinco concelhos.
São precisos muitos dias para conhecer a maravilha natural que é este Parque e para descobrir todos os seus segredos e preciosidades. No entanto poucas horas bastam para cair de amor por esta área protegida e ficar irremediavelmente apaixonado pelas suas serras, florestas, cascatas, piscinas naturais de água cristalina e pequenas aldeias tradicionais.
Este podia ser um post cheio de informações sobre trilhos e caminhos, sobre o que ver e fazer no Parque Nacional Peneda-Gerês, mas não é. Este é um post escrito com o coração, um registo simples de tudo o que vi e senti num passeio pelo primeiro (e único) Parque Nacional Português.
Fotos: Travellight e H. Borges
Partimos de Braga pela manhã. Primeira paragem, primeiro miradouro, primeiro assombro.
Uma paisagem que convidava à evasão… à evasão dos sentidos e do tempo.
Ao longe avistava-se a aldeia de Ermida, uma típica povoação serrana, assente no topo de bonitos campos verdes, cultivados em socalcos.
Este sempre foi um lugar muito isolado, de difícil acesso, e no passado, sem a estrada, ainda era mais. Exigia que as pessoas fossem unidas e dependessem umas das outras para superar as dificuldades da vida.
Ainda hoje esse espírito de entreajuda sobrevive. A população pratica uma agricultura de subsistência, preservando uma extensa área agrícola (cada vez mais abandonada) e ocupa-se da produção de gado e do rendimento da floresta que é gerida pela comunidade.
Uma senhora de idade, que no local onde paramos rezava a uma Nossa Senhora de pedra, confidenciou-nos, depois de terminada a prece, que tinha saudades dos tempos antigos “quando tudo era melhor”…
No mesmo local, apareceu também um simpático cão de gado transmontano e um cachorrinho.
Cheios de alegria e boa disposição, eles estavam mais preocupados em socializar e em receber mimo, do que em guardar as ovelhas que por ali andavam.
A bem da verdade as ovelhas também não estavam interessadas em ir para lado nenhum e algumas até se deitaram, pachorrentas, à sombra de um banco de madeira.
Próximo dali fica Branda de Bilhares, uma aldeia abandonada, que antes era usada no verão, quando o gado era transferido para pastagens mais altas.
Fotos antigas mostram as casas com telhados de colmo, mas agora a maioria das construções de pedra estão cobertas por telhados de chapa metálica ou simplesmente em ruínas.
Mas o lugar é interessante para quem gosta de história e arqueologia, pois na aldeia há ainda vestígios da ocupação romana. Em certos sítios, por exemplo, são visíveis troços de um sistema de regadio que remonta a esse período.
O calor já apertava (estavam 29º C!) por isso seguimos para um banho refrescante no Poço Negro, uma das quedas de água mais bonitas do Parque Nacional.
A piscina natural e a cascata são realmente maravilhosas, mas a descida até lá não é propriamente fácil.
Com calma, cuidado e ajuda do nosso guia da Keen Tours que nos acompanhou neste fantástico passeio, conseguimos chegar até lá abaixo e o esforço valeu imenso a pena porque a recompensa foi grande — Não estava ninguém naquele cantinho do paraíso!
Um pouco mais acima um grupo de pessoas praticavam canyoning, mas na piscina natural e perto da cascata não encontramos ninguém.
A água, completamente cristalina, permitia ver cada pedra e detalhe do fundo e a temperatura (para minha surpresa) estava muito agradável.
Li algures que a água a correr pode induzir um tipo leve de hipnose ou relaxamento profundo, que leva instantaneamente as pessoas para um “lugar feliz”.
Deve ser por isso que os seres humanos são tão atraídos por cascatas. Quando estamos em subtil intimidade com a natureza e tudo nos parece tão puro como os olhos de uma criança, é impossível não nos sentirmos felizes.
Depois do banho, o caminho continuou até Germil, uma pequena aldeia de ruas estreitas, casas de granito e antigos espigueiros, que ainda preserva o ambiente de outros tempos e a beleza de uma vida mais simples.
Antes ainda, passamos pelo Fojo de Lobo de Germil, uma estrutura murada, usada outrora para atrair, encurralar e matar lobos :-(
O Gerês reserva muitas surpresas e uma das melhores, para mim, são todos os animais que encontramos pelo caminho: uns são mais comuns como vacas barrosã, cabras e ovelhas, outros nem tanto, como águias ou cavalos selvagens.
As manadas de cavalos selvagens Garrano, uma raça de pequeno porte, mas muito forte e capaz de sobreviver em condições desfavoráveis, são das coisas mais bonitas que podemos encontrar no Parque Nacional. Vê-los a correr soltos pela serra, graciosos e gloriosos, é uma experiência inesquecível.
A manada que se cruzou connosco tinha muitas éguas prenhes e muitas que estavam a amamentar, o que tornou a experiência ainda mais especial. Os pequenos potros eram absolutamente adoráveis!
Vimos depois a barragem de Vilarinho de Furnas e a albufeira que resultou da sua construção.
Debaixo das suas águas, tal como uma Atlântida perdida no tempo, permanecem os restos da aldeia comunitária com o mesmo nome, que ainda podem ser avistados quando o nível da água baixa o suficiente.
Seguiu-se a Aldeia de Covide (sim, esse é mesmo o nome da aldeia!) e uma paragem para o almoço no Restaurante Cantinho do Antigamente.
Uma mesa farta, cheia de petiscos tradicionais e um vinho verde deliciosamente fresco, ajudou a elevar mais a alma e a restaurar as forças.
Ao lado do restaurante fica A Loja do Parque que funciona como um centro de valorização e promoção dos produtos locais. Eles tem umas bolachas da Essências do Minho, que tive oportunidade de experimentar, que são uma delícia!
Em pouco tempo estávamos de volta à estrada e às paisagens incríveis, seguindo em direção à Mata da Albergaria e à Estrada Romana — A Geira.
Esta rota romana ligava duas importantes cidades do Noroeste da Península Ibérica: “Bracara Augusta“, atual cidade portuguesa de Braga, e “Asturica Augusta“, atual cidade espanhola de Astorga.
A Geira partia de Bracara Augusta, seguia pelo Gerês (abrangendo o concelho de Terras de Bouro), passava pela Portela do Homem (que faz hoje de fronteira entre Portugal e Espanha) e terminava em Asturica Augusta. Talvez por o itinerário abranger locais tão isolados, a Via Geira é a estrada romana mais bem conservada da Península Ibérica e aquela em que mais marcos miliários (colunas colocadas em intervalos de mil passos para fazer a contagem das milhas) sobreviveram.
Depois de uma pequena caminhada pela frondosa Mata, chegamos à Cascata da Portela do Homem e bem perto encontramos as mais sossegadas cascatas das Lagoas da Mata da Albergaria onde novamente nos banhamos em total paz.
Dentro da água transparente, fechei os olhos por um momento, mas logo os abri. Não queria perder nada daquele lugar extraordinário onde todos os sonhos parecem reais e a vida mais leve e plena.
Foto: Pedro Casinhas
Parti com desejo de voltar para saborear um pouco mais da magia, da tranquilidade, da emoção e até da sensualidade, do Parque Nacional Peneda - Gerês.
“Há sítios do mundo que são como
certas existências humanas: tudo
se conjuga para que nada falte
à sua grandeza e perfeição.
Este Gerês é um deles.”
— Miguel Torga
Se tiverem curiosidade, espreitem as pequenas stories do Gerês que partilhei recentemente no Instagram (estão nos destaques)
Tchau!
Travellight