Para ti Mãe…
A minha mãe sempre foi uma grande companheira de viagens. Mesmo com mais de 80 anos, ela mantinha uma animação e uma alegria mais próprias de uma jovem de 18 do que de alguém que já tinha vivido muitas vidas.
Gostava de conhecer lugares novos e de fazer coisas diferentes, e principalmente gostava de rir. Só era péssima com a comida, dificilmente apreciava algo que fugia daquilo a que o seu paladar estava habituado.
Às vezes podia ser frustrante, mas a maior parte das vezes era só engraçado observar “as caras” que fazia quando provava um prato novo.
Nos últimos anos antes dela deixar este plano terrestre, fizemos muitas viagens. Viagens curtas, viagens longas… o que quer que fosse que a minha agenda, muito ocupada na altura, permitisse.
Mas de todas houve uma que foi muito especial e da qual, até hoje, guardo as melhores recordações: o último regresso da minha mãe a Goa, a sua terra natal.
Foi uma viagem decidida à última hora e sob o pretexto de celebrar o aniversário de uma grande amiga da minha mãe, que na altura completava também, salvo erro 80 anos.
Tínhamos poucos dias mas, meu Deus, como aproveitamos bem!
À memória vem-me especialmente um passeio de barco que fizemos ao largo da praia de Arossim para ver golfinhos. Não vimos nem um, mas a minha mãe divertiu-se como nunca. Foi o caminho todo a falar em concani (dialecto local) com o rapaz que conduzia a lancha e olhava para ela com incredulidade. Ele não conseguia acreditar que aquela senhora de pele tão clara falava a sua língua de forma tão fluente.
Eu, que infelizmente nunca aprendi concani e compreendo apenas algumas palavras, fiquei completamente a leste, sem perceber o que diziam nem porque se riam. Mas não teve importância nenhuma, porque eu estava fascinada a olhar para a minha mãe!
É assim que quero lembrar-me sempre dela: cheia de vida, com o cabelo ao vento e a aproveitar cada momento, como se fosse o último, com um sorriso aberto, enorme.
Que orgulho senti de ser sua filha.
Muito obrigada mãe!
Foto: H. Borges