O VALE SAGRADO DOS INCAS | OLLANTAYTAMBO
Quando eu era miúda passava uma série de animação na RTP intitulada “As Misteriosas Cidades de Ouro” que contava as aventuras de 3 crianças pelas Américas e pelas antigas cidades Inca.
Eu amava aquela série e ficava a sonhar acordada com o dia em que também eu iria partir à exploração daqueles locais.
Quando esse dia chegou e eu entrei no avião com destino ao Peru eu nem queria acreditar - foi seguramente um dos dias mais felizes da minha vida. 😊
Duas semanas para explorar! Mas por onde começar?
Claro que a jóia da coroa, aquele sitio a que todos querem chegar, é Machu Pichu, mas até lá há muito chão para percorrer, e um dos melhores sítios para iniciar a aventura é o Vale Sagrado.
Este vale encantado, formado pelo rio Urubamba (um braço do Amazonas), possui uma riqueza de recursos naturais e agrícolas que juntamente com a sua proximidade à antiga capital Cusco, transformaram a região no coração do império de Inca.
Apesar de ser um Vale, este local fica muitos metros acima do nível do mar (2800 m) e muitas pessoas sofrem com os efeitos da altitude. Eu não fui excepção.
Pequenas tonturas, cançaso, dor de cabeça e dificuldade em respirar foram alguns dos (ligeiros) sintomas. Nada que um comprimido de paracetamol e um chá de folha de coca não ajudasse a melhorar...
Sim leram bem, chá de folha de coca!
A folha de coca é um produto natural (e legal no Peru) que por séculos é utilizado pelos povos Andinos para minimizar os efeitos da altitude.
No Peru o chá de folha de coca é muito comum. Todos os hotéis e restaurantes tem e até no aeroporto de Cusco foi oferecido gratuitamente quando chegamos, para não passarmos mal com a mudança de altitude.
O povo Inca acredita que as folhas de coca estimulam a energia, porque aliviam o cansaço, a sede e a fome e anestesiam a dor. Por isso, no passado, honravam com estas folhas os seus ídolos, divindades, as montanhas, as fontes e outros monumentos de grande importância.
As folhas de coca contêm diversos componentes químicos conhecidos como alcaloides. O mais conhecido de entre esses componentes é a cocaína, que só consegue ser extraída e purificada depois de passar por complexos processos químicos. É esse alcaloide (puro) que vicia e produz malefícios para a saúde.
Quando visitei o Vale era Primavera, os campos estavam verdes e por todo lado despontavam flores.
Era uma bela paisagem!
O Vale Sagrado está cheio de pequenas cidades e sítios arqueológicos que oferecem tanto um vislumbre da vida Peruana diária actual, como também oferecem um retrato bem completo das realizações do outrora glorioso Império Inca.
Aqui, a modernidade e a tradição andam de mão dada. Os habitantes respeitam e preservam o seu passado, continuando a seguir práticas indígenas e festejando datas que por séculos foram consideradas especiais para esta cultura.
Detalhes como pequenos santuários sobre os telhados da maioria das casas do Vale Sagrado revelam bem esta dinâmica. Os santuários incluem, entre outras coisas, uma cruz indicando que a família é cristã, touros de cerâmica para dar força e fertilidade, pequenos barris de cerveja de milho para liga-los aos seus antepassados e um frasco de água benta para santificar a casa.
Ollantaytambo, é uma das cidades especiais do Vale Sagrado. Fica ao pé de enormes ruínas que compartilham o mesmo nome.
Este é um sítio arqueológico tranquilo, que serve como base para aqueles que estão em rota para Machu Picchu.
É um ponto de partida comum para os que percorrem a Trilha Inca, uma caminhada de 43 km que termina em Machu Picchu.
Ollantaytambo foi o lugar onde os Incas travaram algumas das suas últimas batalhas, resistindo à conquista Espanhola da fortaleza, ainda intacta, e dos terraços escalonados que se erguiam em redor da cidade.
É um dos complexos arquitectónicos mais monumentais do antigo Império Inca e uma das obras mais peculiares e surpreendentes que os antigos Peruanos realizaram, especialmente o Templo do Sol e os seus gigantescos monólitos.
Algumas das rochas utilizadas na construção encontram-se a alguns quilómetros da cidade, o que revela o domínio de técnicas avançadas de transporte. As pedras eram trabalhadas antes de serem transportadas e nesse trabalho eles deixavam sulcos onde amarravam cordas para facilitar a movimentação.
As ruas rectas, estreitas e pitorescas hoje formam quinze grupos de casas localizadas ao norte da praça principal da cidade, que constituem por si só um verdadeiro legado histórico.
Subir até o topo do centro cerimonial da vila, onde os Incas adoravam os seus Deuses, oferece-nos uma vista panorâmica incrível sobre o Vale Sagrado e os rios Patakancha e Urubamba.
E lá de cima, onde o ar é mais puro e o céu imenso, não consegues deixar de pensar em como nada é eterno. Como grandes Impérios se desmoronam e importantes governantes caem em desgraça.
No fim só ficam as pedras…
Tenho muito mais para vos contar sobre o Vale Sagrado, mas ficará para outro dia.
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Tchau!
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