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The Travellight World

Inspiração, informação e Dicas de Viagem

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Qua | 20.01.21

Montserrat

fullsizeoutput_552eTodas as fotos, exceto se indicado de outra forma: Travellight e H. Borges

08:30 da manhã, parti da Plaza de Espanya num comboio da linha R5 com destino a Monistol. Uma hora de viagem e já estava a apanhar o funicular amarelo para Montserrat. O dia estava luminoso e o sol aquecia o meu rosto, quando finalmente vislumbrei a montanha “serrada” que muitos consideram o coração da Catalunha.

Uma sensação de assombro invadiu o meu espirito… Senti-me literalmente a pisar “chão sagrado”.

Não é algo que me aconteça com frequência.

Apesar de gostar de olhar para o céu, habitualmente tenho os pés bem assentes na terra e não sou de me impressionar muito com um espaço só porque está carregado de simbolismo… No entanto, há lugares onde a espiritualidade — aquele sentimento de pertencer a algo maior do que nós — é especialmente intenso. Não é algo palpável ou até racional, mas é real, e Montserrat foi assim para mim.

Na época não sabia muito sobre este lugar. Estava a visita-lo com o interesse e a leveza de quem visita qualquer outra atração de Barcelona, mas a sua beleza natural e aquela sensação de ser algo maior, algo especial, cativou-me imediatamente. Wilhelm von Humboldt quando ali esteve em 1800, deve ter sentido algo semelhante, assim como o seu amigo Goethe que escreveu sobre este lugar.
(Goethe, em boa verdade, nunca visitou a Península Ibérica, mas isso não o impediu de acompanhar, por correspondência, todos os passos de Humboldt).

Montserrat sempre atraiu todo tipo de pessoas… nem sempre as melhores. Um dos grandes vilões da História moderna, Heinrich Himmler, inspirado pela ópera Parsifal de Richard Wagner, também veio até aqui em 1940. Buscava o Santo Graal para dar mais poder ao regime nazi. Parece o enredo de um filme não é? Mas não, aconteceu mesmo. Ele acreditava que estas montanhas eram o mítico   Monsalvat onde o cálice sagrado estaria escondido.

montserrat_monastery_statue_stained_glass_catalonia_barcelona_famous_architecture-659075.jpg!dFoto: PxHere

Abrigado pelos enormes picos, quase esculpido nas rochas, o Mosteiro de Santa María de Montserrat é um espaço onde a devoção, a arte e a natureza se fundem (e confundem).
Ao longo dos séculos atraiu (e continua a atrair) milhões de peregrinos e turistas, ansiosos por uma oportunidade de ver e tocar a Virgem Moreneta.

A lenda coloca no ano 880 a descoberta, por alguns pastorinhos, da imagem da Virgem, que em 1881 foi declarada a padroeira da Catalunha. Devido à sua cor, ela é carinhosamente conhecida como “La Moreneta”, mas o seu tom escuro, dizem, não é original, é antes um produto da oxidação natural da madeira, do fumo das velas e dos vernizes que foram aplicados ​​ao longo do tempo à estátua.
Até 1947, apenas alguns devotos, atendendo a requisitos muito específicos, podiam aproximar-se da escultura, mas agora todos podem subir e ver de perto a Moreneta, e até tocar no globo que ela segura na mão direita.

A Santa Cova, (caverna, onde supostamente encontraram a imagem) fica a cerca de uma hora da abadia e pode também ser visitada, seguindo uma trilha bem sinalizada.

O Mosteiro de Montserrat é em grande parte uma reconstrução; foi destruído pelo exército de Napoleão no início do século XIX e apenas algumas paredes originais estão de pé.
O claustro gótico, do século XV, é o único vestígio remanescente da época do esplendor anterior à destruição francesa.
A entrada na igreja é feita por um átrio, que é dominado pelas janelas das celas onde residem os monges beneditinos. Quando a cruzamos, dá a impressão que a montanha vai engolir o edifício…

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Às 13:00 horas, de segunda a sexta-feira, durante o ano escolar, no interior da igreja, ressoa o coro de vozes de 40 ou 50 crianças da Escolanía. É um dos coros infantis mais antigos da Europa e a sua origem remonta ao século XIII.
Mas esse vínculo com a cultura não se limita apenas ao campo musical. Como diz o guia: “desde a sua génese, o mosteiro e a sua comunidade beneditina têm sido o berço e o guardião de um importante património espiritual e cultural”.

Nos séculos XIV e XV teve um scriptorium (sala onde se copiavam os livros manuscritos), em 1499 criou a sua própria oficina tipográfica e nos séculos subsequentes a sua biblioteca cresceu e diversificou os seus acervos. Muito foi perdido na guerra contra os franceses, mas hoje continua a manter cerca de 300 mil volumes, o que faz desta biblioteca uma das mais importantes de Espanha. Obras de teologia, filosofia, história, arte, literatura, gravuras, mapas e uma coleção de papiros e documentos musicais constituem este espaço, que infelizmente está reservado apenas aos monges e a pesquisadores.

A arte moderna também entrou em Monserrat, com um museu que abriga obras de Josep Maria Subirachs, Montserrat Gudiol, Caravaggio, El Greco, Luca Giordano, Dalí, Miró, Tàpies, Picasso, etc e representantes do impressionismo francês como Renoir, Monet, Sisley ou Degas. É um dos museus mais interessantes da Catalunha e possui igualmente uma coleção arqueológica admirável que inclui, desde os estudos bíblicos dos monges a coleções de arte do Egito, Mesopotâmia, Terra Santa ... e até uma múmia.

No recinto do santuário era também costume encontrar um mercado diário no qual os produtores da região ofereciam os seus produtos típicos como mel, queijos, pão de figo, licores, vinhos, etc. 

... E por falar em vinho🍷

No regresso de Montserrat, podemos visitar algumas vinícolas como a Torres , que estão localizadas no sopé da montanha,  provar os maravilhosos vinhos da região e ainda petiscar umas belas tapas!

Além dos peregrinos e turistas atraídos pelo santuário, pela história e pela arte que ele contém, este canto da montanha também é muito frequentado por caminhantes e alpinistas. Uma série de trilhas bem sinalizadas ajudam, quem quer desfrutar de Montserrat a pé, a fazer caminhadas que variam de uma hora a mais de três.

O Parque Natural da Montanha, nos seus 10 quilómetros de extensão, abriga florestas de azinheiras, carvalhos, pinheiros e arbustos baixos onde podemos observar esquilos, cabras selvagens e javalis.

A curiosa morfologia das rochas, produto de séculos de erosão hídrica e eólica, levou ao batismo de muitos dos picos com nomes engraçados como “a tromba do elefante”, “o gigante encantado”, “o agulhas”…

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Dada a sua proximidade com Barcelona, Montserrat é uma viagem que se faz bem num dia. É perfeita para quem deseja conhecer mais do que o centro da cidade.

É um lugar inesquecível e que nos convida sempre a voltar.

 

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Tchau!

Travellight

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