Mdina | A Cidade Silenciosa
Como fã da Guerra dos Tronos, em viagem por Malta, eu tinha de guardar um dia para conhecer Mdina, a cidade onde algumas das cenas desta série memorável foram gravadas. As minhas expectativas eram altas e quando o dia chegou eu não podia estar mais animada.
Não me arrependi nem um pouco de assinalar esta cidade no topo da minha lista de lugares a visitar. Mdina é um local extraordinário, tem uma beleza única e um património histórico considerável.
Situada no ponto mais alto de Malta, esta pequena cidade medieval é muito mais antiga que Valletta, a capital da ilha, e teve ao longo dos séculos muitos nomes: Os fenícios chamavam-lhe Maleth; os romanos, Melita e os árabes, Mdina.
Os nobres de Malta, descendentes de senhores feudais normandos, sicilianos e espanhóis, chamavam-lhe Citta 'Vecchia (a cidade velha) ou Citta' Notabile (a cidade nobre). Só uma coisa permaneceu inalterada — a sua beleza!
Já fez parte do mesmo assentamento que a sua cidade vizinha de Ir-Rabat, mas por motivos estratégicos, os árabes decidiram cerca-la e transforma-la numa cidade-fortaleza.
Embora alguns artefactos encontrados em Mdina possam ser datados até a 4.000 anos atrás, a maioria dos edifícios que hoje vemos de pé são do século XVI e XVII e tem uma forte influência europeia barroca e medieval. Infelizmente, grande parte da arquitetura anterior foi destruída por um tremor de terra em 1693 e aquilo que restou teve de ser reconstruido e modificado.
Fotos: Travellight e H. Borges
Enquanto eu caminhava em direção ao maravilhoso portão de estilo barroco e atravessava a ponte que conduz à entrada da cidade, não pude deixar de imaginar como seria aquele lugar na antiguidade e quantas pessoas, ao longo dos séculos teriam atravessado aquela mesma ponte para entrar em Mdina.
A cidade foi a capital de Malta até à chegada da Ordem de São João em 1530, quando Birgu se tornou o centro administrativo da ilha, e depois experimentou um período de declínio que deu origem à sua designação de Cidade Silenciosa. Hoje a designação mantém-se porque nenhum carro, exceto aqueles que pertencem a um número limitado de moradores, tem permissão para ali entrar. Isso proporciona um ambiente de calma e tranquilidade a todos os visitantes que caminham pelas ruas e becos estreitos de Mdina. Em vários lugares, há mesmo placas que lembram o turista que deve respeitar o silêncio e não fazer barulho. Ocasionalmente, ouvimos passar uma karozzin (carruagem tradicional puxada a cavalo), mas pouco mais.
Claro que há turistas, (quando eu lá estive havia até muitos), mas a forma como a cidade está construída e organizada faz dela um local muito silencioso. A maioria dos restaurantes e cafés estão escondidos por pátios interiores. Muitos edifícios, nos andares térreos, não têm sequer janelas para o exterior e a ausência de automóveis e de transito faz toda a diferença.
É fácil deixar o pensamento viajar, enquanto percorremos as ruas de Mdina. O silêncio ajuda muito a imaginar a cidade noutras eras…
As ruas estão impecavelmente limpas, e fazem lembrar algo entre uma pequena cidade italiana e Jerusalém, mas com muito menos barulho e muito menos pessoas.
Há portas pintadas com cores fortes e vivas e os puxadores, feitos de latão, tem formas interessantes como leões a golfinhos. Cada detalhe é apaixonante!
A cada esquina que virava, mais eu gostava de Mdina. Das suas casas de pedra maltesa com tons rosados, das janelas coloridas e varandas altas e da sua atmosfera de paz, principalmente.
Passear por esta pequena cidade é como andar por um labirinto, sem saber muito bem onde iremos parar, mas é aí, exatamente, que reside o seu encanto… De repente descobres um palacete charmoso, uma igreja interessante ou um pequeno restaurante encantador com um pátio secreto coberto de flores e hera, com mesas à sombra de uma árvore de fruto e um aroma delicioso de ravioli acabado de fazer... Há alguma coisa melhor do que isso? Eu acho que não 😊
Foto: Commons Wikimedia
Uma paragem obrigatória em qualquer visita a Mdina é a Catedral de São Paulo, uma obra-prima arquitetónica de estilo barroco, projetada pelo arquiteto Lorenzo Gafa.
São Paulo é uma figura importante em Malta e faz parte da história de Mdina. Conta-se que este apóstolo chegou à cidade depois do seu navio (que ia em direção a Roma) ter naufragado por conta de uma grande tempestade. Os sobreviventes da tragédia nadaram para terra e foram bem recebidos pelos moradores da ilha de Malta que foi assim uma das primeiras colónias romanas a converter-se ao cristianismo.
Segundo a tradição maltesa, a Catedral de São Paulo (assim como a maioria das catedrais de Malta) tem um relógio colocado à esquerda para confundir o diabo, pois mostra a hora errada. O relógio da esquerda mostra a data e o mês do ano, enquanto o relógio da direita, esse sim, tem a hora e os minutos corretos. É uma curiosidade engraçada.
Quem gosta de história e arquitetura deve ainda parar no Palazzo de Santa Sofia — um dos mais antigos palácios de Malta e o edifício medieval mais bem preservada de Mdina; No Palazzo Falzon, também conhecido como a casa Norman — um palácio medieval construído em 1495 e decorado no estilo siciliano; Conhecer o Museu de História Nacional e visitar a Domus Romana para ver os pisos em mosaico do séc.I e todos os outros vestígios arqueológicos do Império Romano.
O Fontanella Tea Garden é o lugar perfeito para terminar um passeio por Mdina. Famoso pelos seus deliciosos bolos caseiros, este restaurante e casa de chá está decorado com árvores e flores coloridas e pode parecer pequeno num primeiro momento, mas existem muitas mesas e cadeiras espalhadas pelos seus dois pisos. O terraço, que fica no piso superior, oferece vistas incríveis para os campos em redor da cidade e um por do sol inesquecível.
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Travellight