Cenas do nosso filme de amor
Uma imagem começava a formar-se na linha do horizonte.
Afastei, com impaciência, o cabelo dos olhos que o vento insistia em tapar, e logo reconheci pelos seus contornos, o casario colorido e a bonita baía de Portofino.
Depois do atraso do comboio que partia de Génova e da greve dos autocarros que fazem a ligação final até Portofino, eu tinha conseguido apanhar em Santa Margherita Ligure, quase por milagre, o último ferry do dia.
Relaxei, mas por pouco tempo....
Agora que estava tão perto de chegar, sentia o coração a bater desordenado, talvez pela antecipação do reencontro. Essa é a maior vantagem de uma relação à distância. Tudo parece novidade, tudo sabe a primeira vez...
Desembarquei e, sem precisar de consultar a morada, dirigi-me para aquela que tinha sido a nossa casa nos últimos verões.
Pousei a mala e olhei em volta.
Estava vazia.
Uma rosa vermelha em cima da mesa da sala chamou-me a atenção. Dei dois passos e agarrei-a.
Tinha um cheiro doce... Ao lado, estava um bilhete: “Estou no Chuflay, encontra-me lá”
Franzi a testa. “Então ele não podia ter esperado um pouco por mim? Eu não demorei assim tanto!”
Respirei fundo. Tirei o telemóvel do bolso e liguei-lhe. Nada… ninguém atendia do outro lado...
Pensei em não ir.
Sou dada a amuos fáceis (nem sempre justificáveis ), mas aqui, senti que a razão estava do meu lado. Tinha feito um esforço enorme para chegar até ali e estava cansada. Tinha apanhado um avião, um comboio, um barco e agora deparava-me com esta desconsideração??? Por favor! Quem é que não ficava irritado?
Olhei de novo para o bilhete e depois para a rosa.
“Estás a fazer uma tempestade num copo de água.”- Quase o ouvi dizer. “Porque é que tens de levar tudo a ferro e fogo ? “
É a minha natureza, não consigo evitar...
Respirei fundo novamente. Abri a janela e acalmei. Como era linda a vista!
Portofino é um dos poucos lugares no mundo que sempre me tira o fôlego. Quem o visita por um único dia pode ficar com a impressão de que é apenas um pequeno porto sobrelotado e sobrevalorizado, cheio de iates milionários e turistas, mas quando o conheces melhor, palavras não chegam para o descrever. É preciso estar lá, experimentar a energia, sentir a vibração!
Mesmo sem querer, vieram-me logo à cabeça os dias quentes de verão. As caminhadas em redor do porto, a Igreja de San Giorgio, as estátuas do Museo dei Parco, o Castello Brown…
Lembrei-me das gargalhadas soltas no Al Faro e da letra de "Un’ Estate Italiana", de Gianna Nannini e Edoardo Bennato, gritada em plenos pulmões, certa noite, no Mariuccia Bar.
Senti o sabor do prosecco bebido com vista para a famosa baía, no Summer Terrace do Belmont Splendido e do chianti acompanhado com presunto de Parma e queijo Valtellina, no Winterose.
Cada momento estava gravado no meu coração como se de uma câmara se tratasse.
Perdida nas minhas lembranças, troquei de roupa e preparei-me para sair. Era a golden hour, o sol estava-se a pôr e cobria tudo com o seu tom dourado. Apesar de ser Maio, a temperatura estava bastante agradável e os restaurantes da Piazzetta começavam a encher-se de casais apaixonados.
Entrei no Chuflay e lá estava ele, à minha espera. Com um sorriso caloroso e um abraço de saudade.
Na sala do restaurante tocavam "I Found My Love in Portofino"
"Ricordo un angolo di cielo
dove ti stavo ad aspettar
ricordo il volto tanto amato
e la tua bocca da baciar
I found my love in Portofino
quei baci più non scorderò
non è più triste il mio cammino
a Portofino I found my love"
Por esta altura, o meu mau humor já tinha passado. O coração estava aberto. Sem sombras. Sem escuridão. Pronto para ser feliz de novo.
Pronto para gravar mais uma cena do nosso filme de amor ❤️