And Just Like That...
Li, a semana passada, que o Sex and The City ia regressar ao pequeno ecrã com um novo título... And Just like That...
A novidade causou-me uma sensação semelhante à que me assalta quando me cruzo com um velho conhecido e ele me dá noticias de uma amiga que não vejo há anos…
Eu já não era propriamente uma adolescente “impressionável” quando a série passou na televisão portuguesa, mas ainda assim devo admitir que me inspirou, como acredito que tenha inspirado toda uma geração de jovens mulheres a conquistar Nova Iorque, Lisboa, Londres ou qualquer outra grande cidade do mundo.
Frases como “Men who are too good looking are never good in bed because they never had to be” pareciam-me, de repente, explicar muita coisa 😜
A série girava em torno de Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha, quatro personagens que falavam abertamente, e sem eufemismos, sobre as suas experiências (boas e más) com os homens. A sua vida parecia consistir em comer em bons restaurantes, beber cosmopolitans, fazer compras e discutir em detalhe o género masculino.
O senso de humor, leve e desinibido, transformou-a numa das séries mais revolucionárias da década de 1990 e consolidou o seu estatuto de culto. Foi um dos primeiros programas (que eu me lembro) a retratar mulheres que falavam de forma franca e sem complexos sobre sexo e isso abriu caminho para outros programas que foram bem mais longe.
Marcou uma época, mas hoje quando penso nisso, acho que Carrie Bradshaw — que na série escrevia uma coluna para o jornal fictício The New York Star — era a última pessoa a quem eu pediria conselhos sobre sexo e relacionamentos. Afinal, ela tinha um "dedo podre" para homens e a maior parte do tempo parecia realmente desconfortável com tudo que tivesse a ver com sexo…
No entanto, no final dos anos noventa, o universo idealizado de uma Nova Iorque onde Carrie e as suas amigas viviam, fascinava-me. E assim, numa das minhas primeiras visitas à cidade, achei que seria divertido passar um dia inteiro em Manhattan a percorrer os passos das personagens principais.
Comecei no West Village, no nr.º 66 da Perry Street, onde fica o apartamento que servia de cenário exterior à casa de Carrie Bradshaw (apesar de na série ela viver no Upper East Side…)
Foto: Rob Young, Wikimedia Commons
Entrei no The Pleasure Chest — a sex shop onde Charlotte comprou um vibrador (fica no West Village, na 156 7th Avenue South) e, claro, aproveitei para escolher uma lembrança para mim também 😉
Parei no 699 da Madison Avenue, numa das lojas do Jimmy Choo — um dos designers de calçado favoritos de Carrie. Mas aqui fiquei só a ver, porque os preços eram impossíveis.
Já na Magnolia Bakery, na 401 Bleecker Street, tive mais sorte e pude experimentar os cupcakes que Carrie e Miranda comiam na série. Vi também a Actor's Church, a igreja localizada na One East 29th Street (entre a Fifth Avenue e a Madison Avenue), onde a Samantha conheceu o “Friar Fuck" e por fim visitei a Louis K. Meisel Gallery, em 141 Prince Street, na Lower Manhattan, que na primeira temporada era o local de trabalho de Charlotte.
Guardei mais um lugar para visitar de noite: O Onieal's Bar and Restaurant (que na série era o bar Scout).
Anos mais tarde, noutra visita à cidade, conheci ainda o lugar onde foi gravado o ensaio de casamento de Carrie e Mr. Big — o Buddakan… Jantar ali, não teve nada a ver com a série, foi só uma coincidência. Por essa altura, já tinham ido à vida todas as minhas ilusões sobre a Nova Iorque de Sex and the City, onde uma jovem freelancer (que só escrevia uma coluna num jornal), podia morar sozinha, viver "fabulosamente” e comprar Manolo Blahniks todos os meses.
And Just Like That… 20 anos depois, o Sex and The City está de volta. O mesmo elenco — com uma baixa gravíssima — Kim Cattrall, não regressa na sua inesquecível Samantha Jones.
Estou curiosa para saber como se adapta uma série criada em 1998, em 2021. O mundo e as mentalidades evoluíram muito de lá para cá (ou será que não?)🤔
Coisas que eram vistas como naturais no Sex and The City do final do século, como o apelo constante ao consumo, talvez não façam mais sentido. As conversas de cariz sexual, que antes soavam a novidade e desafio, agora devem parecer banais (e até ingénuas?) à maioria das jovens.
E depois, será que o “politicamente correto” vai tirar a graça natural das personagens?
Será interessante ver como é feita a transição para uma realidade onde as redes sociais dominam. Se fosse hoje, provavelmente as personagens ainda se encontrariam para um brunch, mas seria para experimentar o menu vegan ou para comer uma torrada de abacate e postar no Instagram, enquanto discutiam as suas aventuras sexuais com o rapaz que conheceram no Tinder… No entanto Carrie e companhia limitada terão agora mais de 50 anos. As premissas, provocações e reflexões tem (necessariamente?) de ser outras.
É esperar para ver!