24 horas em Vila Viçosa
Aproveitando as temperaturas quentes do inicio do Outono, parti à descoberta de Vila Viçosa — terra fértil e rica, onde as pedreiras de mármore abundam e o espírito poético de Florbela Espanca vagueia livre.
Fotos: Travellight e H. Borges
Programei fazer a primeira paragem no Paço Ducal, mas a enorme fila à porta de entrada mostrou-me logo que não ia ser assim tão fácil conhecer o Palácio da Casa de Bragança…
A minha intuição estava certa. Os bilhetes para as visitas guiadas da manhã já estavam esgotados.
Paciência…ia ter de esperar até às 13:00 para tentar a minha sorte novamente.
Sem esmorecer segui até ao Palácio Matos Azambuja, mais conhecido por Casa dos Arcos. Queria vê-lo porque é um dos edifícios mais emblemáticos da arquitetura local. Foi construído em 1599, inspirado nos palácios renascentistas italianos da época. Essa influencia aliás nota-se principalmente na galeria com quatro arcos que fica acima do portão principal.
Uns passinhos adiante, mesmo ao lado do palácio, chama a atenção uma fonte de mármore branco, que foi construída também no estilo renascentista do século XVI. A fonte era usada para regar o jardim da Casa dos Arcos, mas também fornecia água a toda a povoação local.
Indecisa sobre por onde seguir, espreitei as ruas laterais que tinham pequenas casas com portas coloridas e flores nas janelas e depois regressei ao Largo do Terreiro do Paço, visitei a Igreja dos Agostinhos, vi o lago dos patos e dei uma volta no Jardim Municipal. Descobri depois o pequeno, mas muito interessante Museu do Estanho que homenageia a arte de trabalhar o estanho e, em particular, a figura de Apeles Coelho, um estimado e conceituado artesão local.
Daí continuei pela Rua Florbela Espanca e claro, tive de parar no nº 59, onde viveu a famosa poetisa. Eu já sabia que a casa estava abandonada e até já assinei a petição on-line para a converter numa casa-museu, mas ainda assim fiquei um pouco triste com o descaso a que está devotado um local que podia ser usado para divulgar a sua poesia e vida...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!— Eu, Florbela Espanca
Com os versos de Florbela a ecoarem na minha cabeça, continuei a caminhar até chegar à Praça da República.
Vi a Igreja de São Bartolomeu, um monumental edifício barroco que pertenceu aos jesuítas, e a Igreja da Misericórdia. Segui até à Avenida dos Duques de Bragança e rapidamente avistei o castelo e a muralha bem preservada.
Passei pelo belo Pelourinho manuelino. Tem oito metros de altura e é seguramente um dos mais extraordinários exemplares do seu estilo, reflecte bem não apenas a categoria do concelho, mas também a importância do Ducado de Bragança.
Uma das entradas para o castelo é ladeada por dois canhões do século XVII, que provavelmente foram usados na Guerra da Restauração que conduziu à independência de Espanha.
Ao transpor esta porta, acedemos a um jardim bem cuidado, por onde dá prazer caminhar. Daqui podemos admirar o castelo com a sua ponte levadiça, visitar o museu de arqueologia e caça e observar as muralhas, mandadas erguer pelo rei D. Dinis no séc. XIII.
As muralhas estão muito bem preservadas e envolvem toda a parte velha da cidade onde ainda hoje vivem famílias.
No interior das muralhas encontra-se também a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal.
Depois do almoço, o regresso pela Avenida dos Duques de Bragança leva-me de volta ao ponto de partida: O Paço Ducal.
Desta vez tenho mais sorte e consigo o bilhete para a visita guiada. Todas as horas de espera valeram a pena. O palácio é maravilhoso e mesmo de longe impressiona. Tem uma imensa fachada de mármore que enquadra lindamente a estátua equestre de João IV, colocada no centro do Terreiro do Paço. De um dos lados fica a Capela Real e do outro o Convento das Chagas, atualmente convertido em Pousada.
O interior é opulento, e faz adivinhar os seus dias de glória. Há tapeçarias, móveis e faianças, retratos de família e outros quadros (alguns pintados pelo próprio Rei Carlos I).
A entrada é feita por uma grande escadaria adornada com magnificas pinturas que retratam os feitos de D. Jaime, Duque de Bragança.
Durante a visita passamos por diferentes salas que mostram a grandiosidade do palácio e todo o luxo em que vivia a família real. No final passamos pela cozinha que tem uma coleção descomunal de panelas e utensílios de cobre.
Antes de sair pela Porta dos Nós, símbolo da Casa de Bragança, podemos dar uma volta pelos jardins, visitar a capela e o claustro e, se tivermos adquirido o bilhete antecipadamente, visitar o Museu Nacional dos Coches (núcleo de Vila Viçosa) que inclui o carro que transportava a Família Real no dia do regicídio.
... E assim terminou a minha visita à “Princesa do Alentejo”. Só posso dizer que correspondeu (e ultrapassou até) as minhas expectativas ❤️
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Tchau!
Travellight