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The Travellight World

Inspiração, informação e Dicas de Viagem

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Ter | 18.08.20

Dois dias em Guimarães (que souberam a pouco)

Guimarães, a bela cidade berço de Portugal, Património da Humanidade desde 2001, é um destino que nunca desaponta. As praças, o bonito casario, a gloriosa história, doces conventuais, boa comida e até um restaurante com estrela Michelin. Tudo nos convida a ficar, a apreciar e a sentir!

fullsizeoutput_4edeFotos: H.Borges e Travellight

Cheguei de comboio, vinda do Porto. Segui pela rua que conduz ao centro até chegar ao que resta da muralha que outrora protegeu a cidade e rapidamente me deparei com a icónica inscrição “Aqui Nasceu Portugal” Não pude deixar de sorrir. Lugares assim emocionam-me, juntam o passado ao presente e fazem-me sentir que estou muito perto da História.

Instalei-me na Casa do Juncal, um alojamento maravilhoso em pleno centro histórico, e depois saí para explorar a cidade.

Comecei no Largo do Toural, uma das principais praças de Guimarães. Existe desde o século XVII, altura em que era um largo extramuros junto à principal porta da vila. Era aqui que se realizava a feira de gado bovino e outras feiras onde se vendiam produtos diversos. Os prédios que hoje vemos foram construidos mais tarde seguindo uma planta, que segundo dizem, veio de Lisboa. No Largo chama a atenção a pequena Basílica de São Pedro, que tem uma fachada simples, mas que no interior guarda um bonito retábulo decorado em tons de azul e talha dourada.

Continuei pela Rua de Santo António até a Rua General Humberto Delgado e virei à direita até entrar no Caminho do Castelo.

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O Castelo de Guimarães é o maior símbolo da cidade e a sua maior atração. Foi construído durante o século X e sofreu inúmeras modificações ao longo dos tempos, mas é mais conhecido por ter visto nascer o primeiro rei de Portugal — Dom Afonso Henriques — que daqui partiu para a reconquista das terras que estavam nas mãos dos mouros.

A história do castelo remonta à Condessa Mumadona Dias, que após ter ficado viúva, mandou construir na sua herdade de Vimaranes - hoje Guimarães - um Mosteiro. Os constantes ataques por parte dos mouros e normandos levou à necessidade de construir uma fortaleza para guardar e defender os monges e a comunidade cristã que vivia em seu redor. Surgiu assim o primitivo Castelo de Guimarães.

No século XII, vêm viver para Guimarães o Conde D.Henrique e D.Teresa que mandam realizar grandes obras no Castelo de forma a amplia-lo e torna-lo mais forte. É neste período que nasce Dom Afonso Henriques.

Entre os séculos XIII e XV vários reis contribuíram com obras de melhoramento e restauro deste Castelo ligado a façanhas heroicas do período da fundação da nacionalidade, como é o caso da Batalha de S.Mamede. Mais tarde porém, perdida a sua função defensiva, o Castelo entrou num processo de abandono e degradação progressiva até ao século XX, altura em que é declarado Monumento Nacional e são efetuadas obras de restauro.

Próximo do Castelo fica a Igreja de São Miguel, pequenina e quase vazia, salvo por um Cristo crucificado e uma pia batismal onde — diz a tradição popular — D. Afonso Henriques foi batizado (apesar da data da construção da igreja, mais de um século depois do nascimento do primeiro Rei de Portugal, refutar esta ideia).

Não muito longe encontramos o Paço dos Duques, outro belo e interessante edifício que hoje abriga um museu. Vale a pena visitar.

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Concluída a visita ao Paço, voltei para o centro histórico e decidi parar para almoçar. As opções eram muitas e as esplanadas convidativas. Acabei por ficar no Largo da Misericórdia.

Terminada a refeição, excelente por sinal (porque se come muito bem em Guimarães 😁) voltei a minha atenção para os monumentos que embelezam o Largo: Uma igreja com fachada maneirista; uma fonte de granito do século XVIII e uma escultura original que representa o primeiro rei de Portugal. 

Perdida pelas bonitas ruas de Guimarães, fui parar ao Largo Doutor João da Mota Prego onde encontrei a Casa das Rótulas — um edifício erigido possivelmente na primeira metade do século XVII, que chama a atenção pela fachada do seu piso superior ser revestida, na sua totalidade, por rótulas de madeira (tiras compridas e estreitas de madeira colocada no vão de janelas ou portas para proteger da luz e do calor, e através da qual se pode ver sem ser visto)

Continuando a andar, chego até ao Largo dos Laranjais, que deve o seu nome às laranjeiras que ainda hoje ocupam o seu lugar e recordam a influencia árabe na Península Ibérica.
O solar barroco do século XIV designado por Casa dos Laranjais, merece uma atenção especial. Tem portas em estilo manuelino e uma torre com uma gárgula em forma de leão.

A próxima paragem é na Travessa da Senhora Aninhas — uma homenagem da cidade a Ana Joaquina de Magalhães Aguiar, que viveu entre os séculos XIX e XX e que todos consideram a Madrinha dos Estudantes. Diz a tradição popular que Aninhas era uma senhora com um coração generoso, que “adotou” os estudantes de Guimarães, dando aconchego e comida aos mais necessitados.

Ela vivia perto da Travessa que agora leva o seu nome, na Rua de Santa Maria, uma das ruas mais antigas e bonitas de Guimarães. Tem origem medieval e ligava a antiga Vila de Baixo à antiga Vila de Cima. Já foi escura e suja, mas com o tempo transformou-se e começou a atrair moradores ilustres. Algumas lojas e lugares como a Casa do Arco, um solar do século XIII, que dizem, chegou a hospedar Dom Miguel, irmão de Pedro I, ocupam atualmente os bem conservados edifícios da rua.

Tive de parar na Casa Costinhas uma confeitaria tradicional, que fica nesta rua, para provar o toucinho do céu e as tortas de Guimarães. Os doces conventuais deste espaço são os mais famosos e tradicionais da cidade e quando os provas, entendes logo porquê.

O Largo Cónego José Maria Gomes ou Largo da Câmara é mais um dos largos onde vale a pena perder (ou ganhar) uns minutos. Abriga dois edifícios lindos: a Biblioteca Municipal Raul Brandão e a Câmara de Guimarães, construções dos séculos XIX e XVI, respetivamente.

Segue-se a bonita Praça de Santiago, mais um lugar cheio de história. Diz a lenda que em tempos idos o próprio São Tiago, trouxe para Guimarães uma imagem da Virgem Maria e colocou-a num templo pagão que existia nesta praça.
A cidade então resolveu construir uma capela em homenagem ao santo. A dita capela já não existe, mas ainda é possível ver no chão o local que ela ocupava e o símbolo de São Tiago — uma concha.

fullsizeoutput_4ee5fullsizeoutput_4ee6fullsizeoutput_4efafullsizeoutput_4eebfullsizeoutput_4eedfullsizeoutput_4efffullsizeoutput_4ef4fullsizeoutput_4ef501 Foto: Casa Costinhasfullsizeoutput_4f03

Terminei o primeiro dia de visita a Guimarães em grande, com um jantar memorável no primeiro restaurante da cidade a receber uma estrela Michelin — “A Cozinha, por António Loureiro", que fica no Largo do Serralho (perto do Largo da Misericórdia).


O Largo da Oliveira foi o local que escolhi para começar o passeio no segundo dia. É talvez a praça mais simbólica da cidade e atualmente está cheia de esplanadas, bares e restaurantes, mas como tantos lugares de Guimarães, guarda muitas lendas e histórias. Uma das mais conhecidas é aquela que conta o milagre da oliveira: Diz o povo que, certo dia, a oliveira, que dá o nome ao Largo, perdeu todas as suas folhas e murchou. O azeite produzido pelas azeitonas desta oliveira era usado para iluminar a imagem de Santa Maria de Guimarães, pelo que a árvore tinha uma grande importância para a cidade. Tentando salvar a árvore, Pero Esteves, um comerciante vimaranense, decidiu colocar por baixo do Padrão do Salado (símbolo da vitória portuguesa sobre os muçulmanos) uma cruz. As suas preces foram atendidas e a dita oliveira voltou à vida, continuando no centro da praça até hoje.

Outro ponto de interesse deste local é a Igreja da Oliveira, que data do século X ou seja, do início dos tempos de Guimarães. Foi reedificada no século XIV por D. João I em agradecimento a Nossa Senhora pela vitória na batalha de Aljubarrota. A torre, que pela sua altura se sobrepõe ao casario circundante, prende o nosso olhar. Tem detalhes manuelinos e um relógio. Ao seu lado encontra-se a capela de São Nicolau, o santo protetor dos estudantes e um pouco mais à frente o Paço do Conselho, um edifício com belos arcos e janelas e uma curiosa escultura no topo — um guerreiro de duas caras a quem os vimaranenses chamam de “o Guimarães“.

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Saíndo do Largo da Oliveira, segui depois para o Parque das Hortas e apanhei o teleférico para o Monte da Penha, que oferece panoramas de tirar o fôlego da cidade velha de Guimarães e do castelo. Também tem uma igreja e bonitos percursos pedestres por onde podemos caminhar e apreciar as vistas, as formações graníticas, os penedos, grutas e desfiladeiros deste miradouro natural.

De regresso ao centro histórico, visitei o Museu de Alberto Sampaio, uma paragem obrigatória para quem quer conhecer melhor o passado de Guimarães. Fica localizado no lugar onde Mumadona Dias mandou construir o mosteiro que depois deu origem à Antiga Vila de Baixo. O museu abriga uma coleção de arte sacra oriunda das igrejas da cidade e arredores.

De frente para o Museu está a belíssima Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos. Edificada no século XVI, é uma igreja pequena, mas com o seu jardim consegue dominar a paisagem e é um dos cartões postais da cidade.

O meu tempo em Guimarães estava a terminar, mas no regresso para a estação ferroviária, parei ainda no Centro Cultural Vila Flor. Um palácio, mandado construir por um fidalgo no século XVIII, que possui belos jardins e já serviu diversos fins até ser finalmente designado como centro cultural e restaurado, passando a integrar um novo edifício para teatro, de grandes dimensões, que se conjuga perfeitamente com o palácio oitocentistade de estilo barroco.

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Foi uma visita rápida, que soube a pouco, mas que me deixou um sabor muito doce (e não, não me refiro apenas às tortas e ao toucinho do céu 😁).

Já não visitava Guimarães há muitos anos e foi um enorme prazer reencontrar uma cidade tão bonita, tão cheia de História e tão jovem ao mesmo tempo.

E vocês? Há quanto tempo não visitam o berço de Portugal?

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Tchau!

Travellight