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The Travellight World

Inspiração, informação e Dicas de Viagem

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Inspiração, informação e Dicas de Viagem

Ter | 30.06.20

A Capela do Senhor da Pedra

Na vila costeira de Miramar, em Gulpilhares, Vila Nova de Gaia, fica uma pequena capela, construída no topo de uma rocha, virada de costas para o mar. Pequena, mas monumental, frágil, mas forte, irreal e contudo verdadeira, assim é a bela Capela do Senhor da Pedra.

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Observando de longe, parece que o Atlântico a vai engolir na primeira noite de tempestade, mas três séculos já se passaram desde a sua construção, e ela continua aqui, firme. Talvez seja por causa da rocha sobre a qual está assente — um local de culto há mais de dois mil anos.

Como pode atestar a inscrição no mosaico de azulejos emoldurado na entrada da capela, originalmente, a pedra gigante abrigava um templo pagão, possivelmente celta. Quando o cristianismo chegou a Portugal, foram feitos esforços para cristianizar o território e liberta-lo das suas raízes pagãs. O local onde hoje fica a Capela do Senhor da Pedra foi então escolhido para "recuperar" a terra dos hereges, mas apesar da conversão à fé cristã, cerimónias secretas ligadas ao culto pagão ainda hoje ocorrem em noites de lua cheia. Dizem que é comum encontrar velas derretidas deixadas pelos adoradores neo-pagãos nas rochas e na areia ao lado da capela, mas eu não vi nenhuma.

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Uma cerimónia nada secreta é a romaria que comemora o Senhor da Pedra, uma festa cuja origem se perde no tempo e que se realiza, anualmente, nos terrenos arenosos das praias de Miramar. Tem início no Domingo da Santíssima Trindade e prolonga-se até a terça-feira seguinte. A procissão é o ponto alto das festividades que incluem ainda as tradicionais rusgas (danças)  e animação de vários grupos populares.

Antigamente, os romeiros dirigiam-se de manhã cedo, a pé, à capela, por vezes, formando rusgas com as pessoas que se juntavam pelo caminho. As mulheres levavam à cabeça a “condessa”, onde aconchegavam o farnel e os homens transportavam o vinho em cabaças ou mesmo em chifres de boi. Após cumprirem as promessas no local de culto, seguiam para o merecido descanso e para um piquenique. No final, dançavam, faziam rodas e cantavam.
A importância que a romaria ao Senhor da Pedra teve no passado é testemunhada pela existência, num raio de muitos quilómetros em redor, de cantigas de romaria que lhe são dedicadas.
Há cantigas ao Senhor da Pedra em localidades como Cinfães e Paredes, entre muitas outras. Quer isto dizer que acorriam às festas do Senhor da Pedra muitos romeiros vindos de muito longe.
Apesar do passar do tempo, a romaria manteve sempre a sua tradição, e atualmente continua a atrair muita gente.

A crença no Senhor da Pedra pode ter tido origem na antiga adoração pagã, mas o povo criou histórias e lendas para explicar a construção da capela e a importância da rocha que a suporta.
Uns dizem que a capela foi construída como pagamento de uma promessa, por alguém que sobreviveu a um naufrágio em alto mar e foi salvo por uma onda que o transportou até à rocha.

Outros acreditam que a imagem de Cristo foi ali parar, trazida pelo próprio mar e “que num belo dia pousou sobre aquela pedra onde, mais tarde, veio a ser erguida a capela”.

Outros ainda juram que quando os habitantes de Gulpilhares se preparavam para construir uma ermida ao Senhor da Pedra, no terreiro conhecido por arraial, apareceu uma misteriosa luz, sobre os rochedos junto ao mar. Todas as noites a luz voltava a aparecer, fazendo os habitantes acreditar que era um sinal do Céu. Por esse motivo, desistiram da construção da ermida no arraial e resolveram construir a capela no sítio onde a luz costumava aparecer.

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Outra lenda famosa associada a este local é a que nos diz que numa manhã de nevoeiro D. Sebastião cravou as patas do seu cavalo, num dos rochedos, mas acabou por voltar para trás sem entrar em praias portuguesas (justificando assim as duas marcas arredondadas e paralelas que supostamente lá se encontram).

Mas, tudo em que possamos acreditar, é facilmente esquecido perante a visão extraordinária da praia e daquela capela cinematográficamente localizada no topo de uma rocha fustigada pelas ondas do mar.

Não é à toa que este lugar foi eleito a 10ª praia mais bonita da Europa pela organização “European Best Destinations”

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Sex | 26.06.20

Sonhar com… Experiências únicas em Cancún

Areias brancas e um enorme mar azul-turquesa são as principais razões para amar Cancún, mas este destino mexicano não é só praia e tem muito mais para oferecer. Tem dúvidas? Então espreitem esta lista 😃

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1. Nadar com tubarões-baleia

Nadar com tubarões-baleia no mar das Caraíbas é uma atividade imperdível. Estes maravilhosos gigantes do oceano são companheiros gentis de natação e não são perigosos. Alimentam-se essencialmente de plancton, krill e ovas. Com uma dieta limitada a microrganismos minúsculos, os humanos definitivamente não estão em risco de se transformarem numa refeição 😅.
A natureza é imprevisível, mas habitualmente estas criaturas majestosas podem ser avistadas em Cancún de junho a setembro.
O bem-estar dos animais é sempre uma prioridade e durante esta experiência certas medidas são tomadas para garantir a segurança dos tubarões-baleia. Por exemplo, só são permitidos pequenos grupos de pessoas, não é permitido tocar nos tubarões-baleia e o uso de protetor solar está interdito (por causa dos químicos que poluem a água).

fullsizeoutput_4aa62. Museu Subaquático

O Museu Subaquático de Cancún é um projeto em andamento que visa inspirar o amor pela arte, bem como pelos magníficos recifes de coral de Cancún. Jason de Caires Taylor foi o cérebro por trás deste projeto artístico que inclui mais de 500 esculturas originais, submersas a uma profundidades de 3 a 6 metros.
O material utilizado nas obras não polui o ambiente e favorece o crescimento dos recifes de coral, preservando a vida animal que ali habita e contribuindo para um turismo mais sustentável.
Para visitar este museu podemos embarcar num barco com fundo de vidro, praticar snorkel ou fazer mergulho. É Importante não tocar nas esculturas para não prejudicar a formação de recifes de coral, e não usar óleos, hidratantes ou protetores solares no corpo, para não poluir a água.

fullsizeoutput_4aa73. Ruínas Maias

A península do Iucatão é muito rica em história e achados arqueológicos e a partir de Cancún é muito fácil visitar várias ruínas Maias importantes, como El Rey, Tulum e Chichen Itza.

Outra maneira de aprender um pouco mais sobre esta civilização antiga, é visitar o Museu Maia de Cancún, onde se pode ver interessantes artefactos maias e fazer um tour histórico pelas ruínas de San Miguelito.

fullsizeoutput_4aa84. Nadar num Cenote

O México é famoso pelos seus cenotes ou poços de água naturais que encantam todos com a sua beleza.

Usados como piscinas, mantêm uma temperatura agradável o ano todo, proporcionando um escape bem-vindo ao sol quente mexicano.

Os cenotes podem ser totalmente cobertos, parcialmente cobertos ou totalmente abertos e entre as opções mais populares, em Cancun, estão o Cenote Siete Bocas, o Cenote Ik Kil, o Cenote Azul e o Cenote Suytun.

Um dos meus preferidos é o Cenote Suytun. Fica a cerca de duas horas de distância de Cancún, mas tem um cenário incrível. Parece saído de um filme!

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5. Isla Mujeres

Isla Mujeres é uma pequena ilha, localizada a cerca de dez quilómetros da costa da cidade de Cancún, que é conhecida pelas suas praias paradisíacas e várias atividades ligadas ao mar e à natureza.
Os barcos para a ilha partem a cada meia hora (até às 21:00) de Puerto Juarez, Punta Sam, Zona Hoteleira de Cancun e Gran Puerto Cancún, e o percurso leva menos de uma hora.

Quando chegamos à ilha, podemos alugar um carrinho de golfe para passar o dia e visitar atrações populares como o Garrafon Park, Punta Sur e Tortugranja.

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6. Lagos Cor de Rosa

Las Coloradas ou os lagos cor-de-rosa, não estão em Cancún, mas valem bem a viagem de 3 horas e meia, porque são uma paisagem rara.
Os lagos estão localizados num pequeno povoado com o mesmo nome e a sua impressionante cor rosa é resultado da grande quantidade de sal existente na água. Grande parte do sal consumido no México vem deste lugar. 

Para chegar até aqui o ideal é alugar um carro e fazer uma viagem parando no caminho em Valladolid para descansar um pouco.

É proibido tomar banho nestes lagos.

Qui | 25.06.20

Frappuccino Caseiro

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Embora a Starbucks reivindique a autoria da receita do frappuccino, o café gelado que, no verão, faz as delicias dos amantes de café, muitos alegam que a sua origem está na realidade no Coffee Connection — um café com sede em Boston, que vendia uma bebida fria muito semelhante, e que na década de 90 do século passado foi adquirido pelo Starbucks.
Alguns fãs do Coffee Connection garantem que o frappuccino anterior, era superior em sabor e qualidade à bebida que hoje encontramos nos Starbucks de todo o mundo, mas isso agora é difícil de comprovar.

A ideia para o frappuccino pode ainda ter surgido num café na vila de Hersonissos, na Grécia, em Creta, que, já em 1993 vendia uma bebida chamada "frappecino" e que era simplesmente café frappé (uma bebida gelada feita com café instantâneo, muito popular nos anos 80) com leite.

Independentemente da sua origem, uma coisa é certa: O frappuccino é delicioso!

Partilho aqui a receita para quem quiser experimentar um frappuccino caseiro este verão.

INGREDIENTES:
1 café
Leite condensado
Gelo
Natas batidas
Topping de caramelo

PREPARAÇÃO:

A um café expresso (cheio) junte 1/4 da mesma quantidade de leite condensado e misture.
Num liquidificador, pique o gelo juntamente com a mistura de café e leite condensado, até formar um granizado. Adicione a chávena de leite e continue a bater até a mistura ficar homogénea.

Verta tudo para um copo alto e adicione as natas batidas por cima, sem misturar.
Decore com topping de caramelo a gosto.

Qua | 24.06.20

West Coast Design and Surf Villas

As férias “cá dentro” nunca fizeram tanto sentido como agora em tempo de pandemia mundial. Em Portugal, por sorte, não faltam boas opções para fugir um pouco da rotina diária e passar uns dias de descanso, a relaxar, bem perto de casa.

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No inicio do mês passei uns dias nas Azenhas do Mar e fiquei hospedada no West Coast Design and Surf Villas.
Os apartamentos são perfeitos para quem quer aproveitar a praia e explorar melhor a região de Sintra.

A fazer justiça ao nome, os apartamentos tem uma decoração moderna e descontraída e elementos de design adoráveis. São super confortáveis e tem uma atmosfera fantástica.

O self check-in / check out da villa é muito prático e todas as informações que possamos vir a precisar para uma boa estadia — desde o melhor lugar para estacionar o carro, até à password do wi-fi (gratuito), passando por aquilo que podemos visitar nas redondezas — são enviadas por WhatsApp pelo simpático anfitrião da casa.

A villa que reservei não era muito grande (há outras com uma tipologia superior), mas tinha um quarto bom, uma pequena sala de estar com cozinha e um bom chuveiro. O espaço estava bem aproveitado e era aconchegante, tinha inclusive uma lareira que deve ser perfeita para as noites frias de inverno.

A cozinha também estava bem equipada e como bónus ainda havia Netflix disponível.

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O melhor de tudo? A praia!
Bastava descer as escadas (ainda são algumas 😅) e podíamos estender a toalha na areia.

Adormecer ao som das ondas é uma satisfação, e ser a primeira a chegar ao areal pela manhã também sabe bem, principalmente agora que o distanciamento social assume tamanha importância.

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Ao fim do dia o pôr do sol é de tirar o fôlego e com o restaurante Azenhas do Mar e o restaurante Água e Sal tão próximos, a boa comida estava garantida.

Os passarinhos nos beirais e um gatinho preto amoroso, que sempre aparecia para nos cumprimentar, acrescentaram ainda mais alegria a este lugar.

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Quem procura umas férias mais ativas, também não fica dececionado. Atividades como surf, mountain bike e caminhadas estão disponíveis bem perto.

A localização das Villas é ótima para visitar algumas das maiores atrações de Sintra como o Palácio de Monserrate, a Quinta da Regaleira ou o Cabo da Roca. Todos estes lugares ficam a curta distância de carro.

Foi uma escapadinha maravilhosa. Recomendo muito!

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Travellight

Ter | 23.06.20

A Aldeia das Azenhas dos Mar

A região de Sintra tem lugares, que de tão belos, parecem aguarelas pintadas por um talentoso artista. A aldeia das Azenhas do Mar, é claramente, um desses lugares.

Esta aldeia foi uma das 14 Aldeias finalistas das 7 Maravilhas de Portugal e basta vislumbrar de longe o seu pitoresco casario, empoleirado como um presépio, nas falésias sobre o mar, para perceber porquê.

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Localizada na freguesia de Colares, a aldeia das Azenhas do Mar desenvolveu-se ao longo da ribeira do Cameijo que corre para o Atlântico e quebra as arribas da costa. As muitas azenhas (moinhos de água) que existiam no local, deram o nome a esta antiga povoação cuja verdadeira origem se perde na memória dos tempos. Pensa-se contudo que os primeiros moinhos de água datam do período da ocupação árabe.

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É uma obra-prima da arquitetura popular e tem vários palacetes e edificações de interesse histórico, particularmente no estilo Português Suave — uma corrente arquitetónica que procurou criar uma arquitetura "genuinamente portuguesa”.
Um dos mentores desta corrente foi o arquiteto Raul Lino, teorizador da casa portuguesa, que criou um estilo em que características modernistas da engenharia eram disfarçadas por uma mistura de elementos estéticos exteriores, nomeadamente painéis de azulejos, inspirados na arquitetura portuguesa dos séculos XVII e XVIII e nas casas tradicionais das várias regiões de Portugal. 

Foi aqui, que em 1927 foi construída a Escola Primária, que serviu de modelo aos edifícios das escolas primárias do Estado Novo. Elaborada pelo arquiteto Raul Martins, o edifício tem como destaque um painel de azulejos com momentos ilustrativos da História de Portugal.

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Tradicionalmente, para além da atividade de moagem, a população das Azenhas do Mar vivia da pesca, recolha de mariscos (percebes e lapas) e da agricultura, com especial relevo para o vinho.

Com efeito, algumas das mais antigas adegas particulares do denominado Vinho de Colares ficavam aqui. Destas, conhecem-se as pertencentes a Luís Augusto e Manuel José Collares que, já no ano de 1848, fabricavam e comercializavam vinho da sua lavra.
Em 1899, João António e Hermegildo Bernardino da Silva, conhecidos localmente como a família Chitas, adquiriram algumas dessas adegas e constituíram a firma Collares Chitas. Um ano mais tarde, em 1900, António Bernardino da Silva Chitas cria a Adega Beira Mar que, ainda hoje, comercializa o Vinho de Colares. 

Nos campos que circundam as Azenhas do Mar continua a cultivar-se vinha e a rainha da região é a uva Ramisco. Aliás o chão de areia de Colares é muito famoso e isso não aconteceu por acaso: foi ele que salvou as videiras da região da devastação que a praga da filoxera (um inseto minúsculo, parecido com um pulgão) causou em toda a Europa no final do século XIX.

Quando apareceu em Colares, o inseto, não conseguiu sobreviver no chão de areia e até hoje em Colares existem videiras pré-filoxéricas, com mais de um século, e ainda produtivas. São algumas das videiras mais antigas de Portugal.

A plantação em chão de areia não é tarefa fácil, e para implantar a vinha, é necessário retirar areia até alcançar o solo argiloso que fica por baixo, o que significa cavar buracos com muitos metros de profundidade. Neste solo de argila, são depois plantadas – ou unhadas, como se diz na região – as vinhas. Durante 3 a 4 anos, a areia vai sendo reposta, até que a videira se encontre num terreno regular e inicie a sua produção.

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São Lourenço, santo padroeiro da terra e protetor da vinha, é ainda hoje festejado nas Azenhas do Mar, assim como a Nossa Senhora do Mar, cuja devoção se manteve viva entre os moradores.

Existe na aldeia uma interessante capela, totalmente restaurada, dedicada a São Lourenço, que data dos finais do séc. XVI e no dia 10 de agosto (dia de São Lourenço) realiza-se uma missa seguida da Procissão Solene, pelas principais ruas das Azenhas, com passagem pelo Miradouro para a tradicional Bênção.

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O desenvolvimento do povoado como estância balnear ocorreu em meados dos anos 30 do século passado, altura em que foi inaugurada a linha do Elétrico de Banzão até às Azenhas do Mar.

Segundo a tradição local, a chegada do elétrico foi acompanhada de uma festa, tão grande e tão monumental, que um dos homens da terra, José Henriques Totta, mais conhecido como o "Totta", até colocou o Chafariz do Arcão a jorrar vinho de Colares em vez de água.

Conta-se que entre os populares, corria na altura uma anedota que dizia que a linha do elétrico que então iria ligar a Vila de Sintra às Azenhas do Mar, atravessando a Praia das Maçãs, só seria terminada quando o Chafariz do Arcão jorrasse vinho. A piada expressava a descrença dos populares quanto ao término da obra. Por isso quando aquele último troço ficou concluído e foi inaugurado, o "Totta" ordenou que se colocassem barris de vinho, canalizados até àquele chafariz, de modo a que o líquido que saísse da bica fosse vinho e não a esperada água.

A tradição popular ainda nos diz que um fervoroso morador, o senhor Jacinto, bebeu, nada mais do que vinte e oito canecos do chafariz e apanhou uma bebedeira tal que acabou o dia de festa numa cama de hospital.    

Infelizmente em 1955 a decadência da linha levou ao encerramento do troço Praia das Maçãs-Azenhas e o elétrico passou a ser apenas uma memória distante.

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As Azenhas do Mar foram local de férias do rei D. Carlos, da sua mulher D. Amélia e da mãe, D. Maria Pia. A atração principal da aldeia era (e continua a ser) a sua maravilhosa piscina oceânica para onde converge todo o pitoresco casario.

Esta piscina está em contacto quase direto com o mar e este, de quando em quando, de onda em onda, cavalga a rocha e arrefece a água que na parte de dentro é aquecida pelos raios do sol.

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A praia é pequena (e pode ficar totalmente imersa durante a maré alta), mas é habitualmente agradável, porque está de certo modo abrigada do vento pelas falésias. Tudo aqui é pitoresco e acolhedor e um dos mais famosos restaurantes da região de Sintra — o Restaurante Azenhas do Mar— também se encontra aqui.

Juntamente com vistas extraordinárias, oferece aquilo que o mar tem de melhor: peixe e marisco fresco.

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O ano passado terminaram os trabalhos de requalificação e reabilitação do Miradouro das Azenhas do Mar, que limitou a circulação de automóveis, por isso o acesso ao topo do miradouro agora só pode ser feito a pé ou de bicicleta.
Os automobilistas que se deslocarem ao local podem deixar as suas viaturas no novo parque de estacionamento, criado ao longo da Rua Dr. António Brandão de Vasconcelos, com acesso pelo lado do mar.

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A aldeia das Azenhas do Mar e a sua paisagem de cartão postal, que tantas vezes serviu de inspiração a pintores e escritores como Emílio de Paula Campos, Júlio Pomar, Alfredo Keil, Virgílio Ferreira, José Saramago e Ferreira de Castro (que chegou a viver aqui), é mais um tesouro a (re)descobrir neste nosso belo Portugal.


Todos os caminhos vão dar a Sintra. O viajante já escolheu o seu. Dará a volta por Azenhas do Mar e Praia das Maçãs, espreitará primeiro as casas que descem a arriba em cascata, depois o areal batido pelas ondas do largo" — José Saramago, Viagem a Portugal

 

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Travellight

Sab | 20.06.20

Roteiro Literário | Um passeio por Barcelona à Sombra do Vento

Visitar uma cidade guiada por um romance, é uma das coisas que mais gosto de fazer onde quer que vá e a Barcelona que hoje aqui recordo é a que me foi contada por Carlos Ruiz Zafón.

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Procurando seguir os passos de Daniel Semperee em A Sombra do Vento, comecei o meu percurso na Carrer de Santa Ana, uma rua estreita, meio escondida no Bairro Gótico de Barcelona, que liga a Avenida Portal de l'Àngel a Las Ramblas e abriga lojas pequenas e comercio local. A livraria da família Sempere podia bem ser ali…
Como Daniel e o seu pai moravam num “pequeno andar (...) junto da praça da igreja”. Procurei um pouco e encontrei uma Igreja no centro do quarteirão. Era a igreja de Santa Ana, uma bonita construção do século XII, de estilo românico e gótico, que já foi um mosteiro pertencente à Ordem do Santo Sepulcro.

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Imaginei Daniel num dos apartamentos da estreita rua perto da praça da igreja, a espreitar por uma das varandas, sonhando com os seus livros e com Clara. E pensando no misterioso Julián Carax.

Segui para as Ramblas e perto do mercado La Boqueria, encontrei a Carrer del Arco del Teatre, onde o autor coloca os eventos de "A Sombra do Vento" em movimento. O arco que conduz à rua era um pouco escuro e sombrio, mas eu atravessei-o e senti como se tivesse, literalmente, entrado dentro do romance pois não havia vivalma por ali. Apenas uma homem — que poderia ser o próprio Lain Coubert — e garagens cobertas de grafitti e portas pesadas, algumas com grades, que por trás pareciam esconder pequenos e grandes segredos.

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A rua era, tal como descrita por Zafón “mais cicatriz que rua”. As paredes cheiravam a humidade e pareciam escuras e sujas. Quase esperei encontrar mesmo o Cemitério dos Livros Esquecidos, mas nada...
Não fiquei muito tempo, começava a escurecer e não havia ninguém por perto. Era como se Barcelona, naquele local, estivesse abafada e esquecida. Caminhei em direção à luz, para um lugar mais aberto onde conseguisse respirar melhor.

Com o cair da noite o misterioso, mas belo labirinto de ruas, becos e passagens quase secretas do Bairro Gótico de Barcelona, é tão fascinante, quanto assustador e a coragem para continuar a explorar, abandonou-me. Contudo ainda passei na (mais luminosa) Praça Real onde morava Clara, admirei os candeeiros desenhados por Antoni Gaudí e segui pela Carrer Ferran para ver a loja de chapéus que fica no n. 2 da rua e que no livro pertence a Fortuny.

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No dia seguinte continuei a minha jornada através da Barcelona de Zafón e acabei a andar pelas ruas da Carrer Jaume I e Carrer de la Princesa, da mesma maneira que Daniel teria feito quando viu a caneta Montblanc Meisterstuck pela primeira vez.

Segui para a Carrer Montsió e parei no Els Quatre Gats, um famoso restaurante inaugurado em 1897 que já teve como clientes artistas como Pablo Picasso. O espaço chegou a ser a sede de uma sociedade local chamada Círculo Artístico de São Lucas (Cercle Artístic de Sant Lluc) e em A Sombra do Vento é o local onde “Barceló e os seus compinchas mantinham uma tertúlia bibliófila sobre poetas malditos, línguas mortas e obras-primas abandonadas à mercê da traça”.. É também o lugar onde Daniel vai com o pai em busca de informações sobre Julián Carax.

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A paragem seguinte foi o Ateneo Barcelonés, localizado na Carrer de la Canuda. É no Ateneu que Daniel conhece Clara Barceló, o seu primeiro amor.
O Ateneo Barcelonés é uma associação civil fundada em Barcelona no ano de 1860 e que durante o século XX transformou-se num importante centro cultural. Hoje, a instituição alberga uma rica biblioteca e ocupa o Palácio Savassona, uma mansão construída em 1796 e adquirida pelo Ateneu em 1906.
Durante a Guerra Civil Espanhola, época em que se instala a ditadura franquista e durante a qual se desenrola a história de Zafón, a biblioteca esteve sob o controle da Dirección del Servicio de Bibliotecas Populares e converteu-se numa biblioteca pública.

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Observei de passagem o edifício histórico da Universidade de Barcelona, onde Daniel reparou pela primeira vez na beleza de Bea, irmã de seu melhor amigo.

Continuei até à Praça de San Felipe Neri onde Daniel avistaria, sentada a ler, a bela Nuria Monfort.
Construída sobre um antigo cemitério medieval, no Bairro Gótico de Barcelona, esta praça e a sua igreja foram testemunhas importantes da violência da Guerra Civil Espanhola. Na praça, ainda hoje conseguimos ver os restos de estilhaços de uma bomba que durante a guerra causou a morte de quarenta e duas pessoas, na sua maioria crianças.

Segui para o Porto de Barcelona e ainda à distância, consegui ver o enorme monumento a Cristóvão Colombo onde Daniel encontrou o sinistro incendiário, uma figura estranha e deformada. Como me sentiria se me cruzasse com tal personagem? Da mesma maneira que Daniel talvez...

 “A chama iluminou pela primeira vez o seu semblante. Gelou-se-me a alma. Aquela personagem não tinha nariz, nem lábios, nem pálpebras. O seu rosto era apenas uma máscara de pele negra e cicatrizada, devorada pelo fogo.”

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O dia já ia longo quando cheguei a Tibidabo, o pico mais alto de Barcelona e à Avenida com o mesmo nome. A Avenida del Tibidabo e o seu famoso “elétrico azul” são citados pela primeira vez em A Sombra do Vento quando Daniel procura pistas sobre o passado de Carax. É também nesta avenida que ele encontra o palacete onde vivera Ricardo Aldaya e a sua família.

Guardei para o fim a visita à Igreja gótica de Santa Maria del Mar que fica localizada no bairro da Ribera, junto à Praça de Fossar de les Moreres. Ela é mencionada por Zafón algumas vezes e a sua presença é relevante na parte final do livro por isso fazia todo o sentido eu terminar aqui o meu passeio.

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A Sombra do Vento é para mim parte de Barcelona, é uma aventura maravilhosa, por vezes sombria e sinistra, mas também uma viagem literária que nunca esquecerei.

Sex | 19.06.20

Kwareżimal | O doce vegan que nasceu duma tradição maltesa

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Kwareżima é um doce tradicional da ilha de Malta, muito popular principalmente durante a época da Páscoa.

É um doce vegan porque não contêm proteína animal, ovos ou laticínios.

A palavra 'kwareżimal' tem origem na palavra latina "quaresima", que se refere aos 40 dias da quaresma, e os ingredientes deste doce refletem a simplicidade da comida preparada em Malta durante esse período do ano.

INGREDIENTES
200 g de amêndoas moídas
200 g de farinha
150 g de açúcar
1 colher (de chá) de canela em pó
1 colher (de chá) de água de flor de laranjeira (podem ver como fazer aqui
Raspas de um limão ou de uma laranja ou de uma tangerina grande

PARA DECORAR

4 colheres (de sopa) de mel de tomilho biológico (podem encontrar à venda no Celeiro) — os vegan podem dispensar este ingrediente.

Pistáchios e amêndoas picadas e raspas de laranja.

 

PREPARAÇÃO
Junte todos os ingredientes e adicione água suficiente para fazer uma massa firme.
Continue a amassar por mais um tempo e depois divida a massa em pequenos pedaços e dê a cada um o formato de uma pequena broa de mel.

Coloque os kwareżimals numa forma, leve ao forno e asse a 180 ° C por cerca de 10 minutos.

Enquanto ainda estiverem quentes, cubra-os com mel de tomilho e polvilhe com os pistáchios, as amêndoas picadas e com as raspas de laranja.

 

Esta receita é baseada no livro de Helen e Anne Caruana Galizia "L-Ikel u t-Tisjir ta 'Malta" (A comida e a culinária de Malta)

Qui | 18.06.20

Mdina | A Cidade Silenciosa

Como fã da Guerra dos Tronos, em viagem por Malta, eu tinha de guardar um dia para conhecer Mdina, a cidade onde algumas das cenas desta série memorável foram gravadas. As minhas expectativas eram altas e quando o dia chegou eu não podia estar mais animada.

Não me arrependi nem um pouco de assinalar esta cidade no topo da minha lista de lugares a visitar.  Mdina é um local extraordinário, tem uma beleza única e um património histórico considerável.

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Situada no ponto mais alto de Malta, esta pequena cidade medieval é muito mais antiga que Valletta, a capital da ilha, e teve ao longo dos séculos muitos nomes: Os fenícios chamavam-lhe Maleth; os romanos, Melita e os árabes, Mdina.
Os nobres de Malta, descendentes de senhores feudais normandos, sicilianos e espanhóis, chamavam-lhe Citta 'Vecchia (a cidade velha) ou Citta' Notabile (a cidade nobre). Só uma coisa permaneceu inalterada — a sua beleza!
Já fez parte do mesmo assentamento que a sua cidade vizinha de Ir-Rabat, mas por motivos estratégicos, os árabes decidiram cerca-la e transforma-la numa cidade-fortaleza.

Embora alguns artefactos encontrados em Mdina possam ser datados até a 4.000 anos atrás, a maioria dos edifícios que hoje vemos de pé são do século XVI e XVII e tem uma forte influência europeia barroca e medieval. Infelizmente, grande parte da arquitetura anterior foi destruída por um tremor de terra em 1693 e aquilo que restou teve de ser reconstruido e modificado.

fullsizeoutput_49fbFotos: Travellight e H. Borges

Enquanto eu caminhava em direção ao maravilhoso portão de estilo barroco e atravessava a ponte que conduz à entrada da cidade, não pude deixar de imaginar como seria aquele lugar na antiguidade e quantas pessoas, ao longo dos séculos teriam atravessado aquela mesma ponte para entrar em Mdina.

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A cidade foi a capital de Malta até à chegada da Ordem de São João em 1530, quando Birgu se tornou o centro administrativo da ilha, e depois experimentou um período de declínio que deu origem à sua designação de Cidade Silenciosa. Hoje a designação mantém-se porque nenhum carro, exceto aqueles que pertencem a um número limitado de moradores, tem permissão para ali entrar. Isso proporciona um ambiente de calma e tranquilidade a todos os visitantes que caminham pelas ruas e becos estreitos de Mdina. Em vários lugares, há mesmo placas que lembram o turista que deve respeitar o silêncio e não fazer barulho. Ocasionalmente, ouvimos passar uma karozzin (carruagem tradicional puxada a cavalo),  mas pouco mais.

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Claro que há turistas, (quando eu lá estive havia até muitos), mas a forma como a cidade está construída e organizada faz dela um local muito silencioso.  A maioria dos restaurantes e cafés estão escondidos por pátios interiores. Muitos edifícios, nos andares térreos, não têm sequer janelas para o exterior e a ausência de automóveis e de transito faz toda a diferença.
 
É fácil deixar o pensamento viajar, enquanto percorremos as ruas de Mdina. O silêncio ajuda muito a imaginar a cidade noutras eras…
As ruas estão impecavelmente limpas, e fazem lembrar algo entre uma pequena cidade italiana e Jerusalém, mas com muito menos barulho e muito menos pessoas.

Há portas pintadas com cores fortes e vivas e os puxadores, feitos de latão, tem formas interessantes como leões a golfinhos. Cada detalhe é apaixonante!

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A cada esquina que virava, mais eu gostava de Mdina. Das suas casas de pedra maltesa com tons rosados, das janelas coloridas e varandas altas e da sua atmosfera de paz, principalmente.

Passear por esta pequena cidade é como andar por um labirinto, sem saber muito bem onde iremos parar, mas é aí, exatamente, que reside o seu encanto… De repente descobres um palacete charmoso, uma igreja interessante ou um pequeno restaurante encantador com um pátio secreto coberto de flores e hera, com mesas à sombra de uma árvore de fruto e um aroma delicioso de ravioli acabado de fazer... Há alguma coisa melhor do que isso? Eu acho que não 😊

fullsizeoutput_4a00Foto: Commons Wikimedia

Uma paragem obrigatória em qualquer visita a Mdina é a Catedral de São Paulo, uma obra-prima arquitetónica de estilo barroco, projetada pelo arquiteto Lorenzo Gafa.
São Paulo é uma figura importante em Malta e faz parte da história de Mdina. Conta-se que este apóstolo chegou à cidade depois do seu navio (que ia em direção a Roma) ter naufragado por conta de uma grande tempestade. Os sobreviventes da tragédia nadaram para terra e foram bem recebidos pelos moradores da ilha de Malta que foi assim uma das primeiras colónias romanas a converter-se ao cristianismo.

Segundo a tradição maltesa, a Catedral de São Paulo (assim como a maioria das catedrais de Malta) tem um relógio colocado à esquerda para confundir o diabo, pois mostra a hora errada. O relógio da esquerda mostra a data e o mês do ano, enquanto o relógio da direita, esse sim, tem a hora e os minutos corretos. É uma curiosidade engraçada.

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Quem gosta de história e arquitetura deve ainda parar no Palazzo de Santa Sofia — um dos mais antigos palácios de Malta e o edifício medieval mais bem preservada de Mdina; No Palazzo Falzon, também conhecido como a casa Norman — um palácio medieval construído em 1495 e decorado no estilo siciliano; Conhecer o Museu de História Nacional e visitar a Domus Romana para ver os pisos em mosaico do séc.I e todos os outros vestígios arqueológicos do Império Romano.

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O Fontanella Tea Garden é o lugar perfeito para terminar um passeio por Mdina. Famoso pelos seus deliciosos bolos caseiros, este restaurante e casa de chá está decorado com árvores e flores coloridas e pode parecer pequeno num primeiro momento, mas existem muitas mesas e cadeiras espalhadas pelos seus dois pisos. O terraço, que fica no piso superior, oferece vistas incríveis para os campos em redor da cidade e um por do sol inesquecível.

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Tchau!

Travellight

 

 

Qua | 17.06.20

Queijadas de Sintra

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"Ega ia largar atarantadamente o embrulho, para apertar a mão que Maria Eduarda lhe estendia, corada e sorrindo. Mas o papel pardo, mal atado, desfez-se; e uma provisão fresca de queijadas de Sintra rolou, esmagando-se, sobre as flores do tapete."
 — Os Maias, Eça de Queiroz

A origem e a história das deliciosas Queijadas de Sintra, imortalizadas no romance "Os Maias" de Eça de Queiroz, perdem-se no tempo, mas pensa-se que estas pequenas tartes feitas a partir de queijo fresco, açúcar, ovos, farinha e um pouco de canela e depois envolvidas numa massa crocante e estaladiça, já eram produzidas na região durante a Idade Média.

As excelentes pastagens de Sintra permitiam o fabrico de queijo fresco e era comum o excesso de queijo ser usado para confecionar estes doces, que depois podiam servir aos camponeses como forma de pagamento.

Partilho aqui a receita para quem quiser experimentar em casa 😃


INGREDIENTES
(para 12 queijadas)

Para a massa:
250 g de farinha
1 colher (de sopa) de manteiga derretida
água morna
sal (a gosto)

Para o recheio:
400 g de queijo fresco sem sal
350 g de açúcar
4 gemas de ovo
60 g de farinha
1 colher (de café) de canela em pó

PREPARAÇÃO

Numa tigela deite a farinha e no meio abra uma cova e junte a manteiga derretida. Misture tudo muito bem.
Aos poucos adicione a água morna, temperada com sal e vá amassando até a massa deixar de pegar e ter uma consistência homogénea.
Amasse mais um pouco e depois deixe a massa descansar coberta por um pano húmido, idealmente por uma noite.

No dia seguinte prepare o recheio.
Reduza o queijo a puré, junte o açúcar, as gemas, a farinha e a canela. Misture tudo muito bem.

Numa superfície enfarinhada, estenda a massa muito fina com a ajuda de um rolo de cozinha.
Corte depois a massa em círculos com cerca de 9 cm de diâmetro.

Com uma faca dê quatro golpes pequenos nas bordas de cada circulo de massa (para ajudar a ganhar a forma da queijada) e com estes círculos forre 12 formas pequenas.
Despeje o preparado de queijo em cada uma das formas e leve a cozer em forno muito quente (210º) durante cerca de 15 minutos, ou até ficarem douradas.

Retire do forno, desenforme com cuidado e sirva as queijadas acompanhadas com uma chávena de chá.

Ter | 16.06.20

Quinta da Regaleira | Um lugar mágico na Serra de Sintra

Lugares mágicos e palácios de contos de fada não existem só nos livros. Eles também podem fazer parte da nossa realidade e aqui em Portugal, fazem mesmo!

Entrar na Quinta da Regaleira, em Sintra, por exemplo, tem o condão de nos transportar imediatamente para um mundo encantado e misterioso de lagoas cobertas de musgo, jardins luxuriantes, grutas, quedas de água, túneis subterrâneos e uma escada em espiral que desce fundo até à terra, mas que se abre luminosa para o céu.

Visitar a Regaleira é viajar através de um universo imaginário cheio de símbolos e metáforas, onde tudo é possível, até mesmo a magia!

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Localizada na Rua Barbosa du Bocage em pleno centro histórico de Sintra e bem perto do Palácio de Seteais, a história da Quinta da Regaleira perde-se no tempo e a documentação anterior à sua compra pelo famoso Carvalho Monteiro é escassa. Sabe-se no entanto que em 1697, José Leite adquiriu uma vasta área na Vila de Sintra que corresponderia, aproximadamente, ao terreno que hoje integra a propriedade, e que de 1715 a 1830 esse terreno teve vários proprietários, incluindo Manual Bernardo, que lhe deu a atual designação de “Quinta da Regaleira”.

Em 1840, a Quinta foi adquirida pela filha de um grande negociante do Porto (que mais tarde foi agraciada com o título de Baronesa da Regaleira) e em 1892, foi por esta vendida, ao Dr. António Augusto Carvalho Monteiro (por 25 contos de réis). Foi a partir daqui que a Regaleira, tal como a conhecemos hoje, começou finalmente a ser construida.

Este fascinante conjunto de edificações e respetivo jardim é o reflexo direto dos interesses filosóficos do “Monteiro dos Milhões” (assim era conhecido Carvalho Monteiro), aliado ao talento do arquiteto-cenógrafo italiano, Luigi Manini.

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Dono de uma imensa fortuna, Carvalho Monteiro, nasceu no Rio de Janeiro em 1848, filho de pais portugueses, que cedo o trouxeram para Portugal. Era um ávido colecionador de arte e tinha várias peculiaridades espirituais, que se espelham nas muitas adições que fez à propriedade, principalmente nos extensos jardins, cheios de pequenos (e grandes) detalhes a que os franceses chamariam de "folies" ou construções decorativas que servem uma função estética e poética nos jardins românticos.

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A contribuição de Manini, que por esta altura já tinha trabalhado como cenógrafo do Teatro São Carlos, do Teatro D. Maria II e tinha a seu cargo a decoração da sala do Teatro S. Luiz, nota-se bem. A Quinta da Regaleira é um cenário tão incrivel que facilmente pode servir de fundo a qualquer peça de teatro ou ópera clássica.
O italiano foi também o arquiteto do Palace Hotel do Buçaco e quando olhamos com atenção, verificamos que de facto existe uma semelhança grande entre o neo-manuelino de ambas as obras e que tanto o Buçaco como a Regaleira celebram a dimensão histórica e mítica de Portugal.

Nos jardins porém, a diferença é notória, principalmente quanto ao seu simbolismo religioso. Enquanto no Buçaco predomina a tradição católica cristã, na Regaleira, o cristianismo e o paganismo convivem harmoniosamente com várias referências literárias e iniciáticas.
Símbolos templários e maçónicos aparecem um pouco por todo o lado, assim como referências à alquimia, ao rosacrucianismo e à Divina Comédia de Dante.

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A Regaleira beneficia do micro-clima da Serra de Sintra que muito contribui para os seus jardins verdes luxuriantes e nevoeiros constantes que só adensam a sua aura de mistério.

Podemos passar horas a andar pelos enigmáticos jardins sem nunca conseguir ver tudo. Há sempre um novo detalhe para descobrir, um símbolo novo para identificar ou um caminho sinuoso para desbravar.

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A Quinta da Regaleira, com os seus jardins, poços, grutas e capela, sugere, um percurso simbólico ou real, que leva o visitante por um caminho que vai das trevas à luz. O Poço Iniciático é o maior símbolo disto. As nove plataformas dentro do poço lembram os nove círculos do inferno, nove secções do purgatório e os nove céus do paraíso. A jornada pelas plataformas, subindo as escadas em espiral, deve ser como um renascimento, um caminho para iluminação.

Apesar da diversidade de percursos que a Quinta da Regaleira oferece, todos os caminhos parecem conduzir à entrada deste outro mundo. Esta espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra e consoante a natureza do percurso iniciático escolhido, nos leva ao abismo ou nos faz subir em direção ao céu.

No fundo do poço sobressai uma cruz templária e as galerias próximas, conduzem-nos, por autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo. Na sua maioria, estas galerias são de construção artificial, mas aproveitam as características geológicas da Serra de Sintra.

Ao chegarmos ao exterior, esperam-nos a luz e os cenários minuciosamente construídos por Manini.

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Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço grandioso, em que pudesse viver rodeado de todos os símbolos que espelhavam os seus interesses e ideologias. Parece-me que ele foi muito bem sucedido nesse objetivo e nós, que agora podemos visitar este lugar mágico, é que ficamos a ganhar com isso!

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Tchau!

Travellight