Será que ainda posso confiar no TripAdvisor?
Há muitos anos que antes de viajar, quando ainda estou a escolher um hotel ou acomodação, eu consulto o site TripAdvisor e verifico a pontuação e criticas que aquele espaço recebeu de outros viajantes. Não marco quase nada sem antes passar por lá.
Habituei-me a confiar no TripAdvisor e a seguir as recomendações ali partilhadas sem questionar muito, até porque no final acabava por concordar com a maioria das avaliações. Foi por isso com alguma irritação que li na semana passada os resultados de um estudo realizado pela Wich? - Associação Britânica de Consumidores.
O estudo analisou quase 250.000 avaliações feitas aos hotéis mais bem classificados de 10 destinos turísticos, de Las Vegas à Cidade do Cabo, passando pelo Cairo e por Londres e concluiu que um em cada sete hotéis com melhor classificação em todo o mundo tem avaliações no TripAdvisor que indicam sinais "flagrantes" de falsificação.
Nos dias que correm isto não me devia surpreender, afinal vivemos num mundo em que é quase impossível saber o que é verdade ou não. A Internet e as redes sociais estão cheias de fake news e manipulações.
Admito que até eu, ao publicar uma foto no Instagram em que apareço sozinha num determinado destino, não estou a ser totalmente verdadeira. Habitualmente há muito mais pessoas naquele local, mas eu tenho a paciência de esperar, de encontrar o ângulo certo ou de acordar cedo o suficiente para poder tirar uma foto em que o lugar pareça deserto, apenas porque acho que vai ficar mais bonito (e também porque lido mal com multidões 😜). Depois edito a fotografia, acrescento mais luz, maior definição ou mais cor. Procuro que o resultado seja esteticamente agradável. Isso é mentir? penso que não, mas é certamente manipular um pouco a verdade…
Agora recomendar um hotel ou restaurante de que não gostei ou onde fui mal atendida é coisa que não me passa pela cabeça e contava que grandes sites como o Tripadvisor (o maior site de avaliações do mundo) tivessem mecanismos que impedissem a fraude (estou a ser ingénua, eu sei 🙄).
Ao prometer um retrato fiel do mundo, o TripAdvisor fica na posição infeliz de se tornar numa espécie de árbitro da verdade. De ter que determinar quais são as avaliações reais e quais são as falsas, quais são precisas e quais tem como única intenção prejudicar um negócio…
Acredito que tudo isto seja mais fácil de dizer do que de fazer.
Li que todos os meses, 456 milhões de pessoas - cerca de uma em cada 16 pessoas na Terra - visitam o TripAdvisor.com para planear ou avaliar uma viagem.
Para praticamente todos os lugares, existe uma página correspondente. O TripAdvisor é aquele lugar onde vamos para elogiar, criticar, decidir onde ficar, o que ver e onde comer. É, na sua essência, um livro de visitas, um espaço onde as pessoas registam os pontos altos e baixos das suas experiências de férias para benefício de todos os outros.
Funciona como uma espécie de espelho do mundo e de todas as suas maravilhas. Pode indicar-nos as atrações mais espetaculares, os melhores restaurantes, parques aquáticos, livrarias, atividades, etc, etc…
Ao longo de duas décadas este site transformou-se num negócio de bilhões, oferecendo um serviço que até essa altura nenhuma outra empresa dominara: informação continuamente atualizada sobre todos os elementos imagináveis de uma viagem e tudo isto com um número cada vez maior de colaboradores que prestam informações gratuitamente.
O problema é que à medida que a chamada "economia da reputação" crescia, crescia igualmente uma indústria paralela de avaliações falsas, que podem ser compradas, vendidas e negociadas on-line.
Ao falhar no combate a esta atividade paralela o TripAdvisor põe em causa a sua própria existência. Sem uma plataforma credível, sem clientes e criticas reais, tudo desmorona.
O site tomou, segundo percebi, medidas para combater a fraude retirando, depois da denuncia da “Wich?”, centenas de avaliações consideradas suspeitas. Resta saber se isso será suficiente…