A NOVA TELEVISÃO
Dia 22 de Novembro é o Dia Mundial da Televisão e isso fez-me reflectir sobre o papel que a televisão tem no fenómeno da globalização.
Nos dias de hoje, quando ligamos os nossos televisores, podemos ver notícias transmitidas directamente de qualquer lugar, desde a França até ao Zimbabué ou qualquer lugar ainda mais remoto.
A presença desta pequena caixa mágica permite às pessoas ficarem a saber o que o resto do mundo está a fazer e esta consciência conecta-nos à volta do globo.
As pessoas agora sabem como os outros vivem e sentem. Sabem como reagem a um emocionante jogo de futebol, a uma grande tragédia ou simplesmente ao novo vídeo viral do youtube.
As crianças de todo o mundo podem ver e assistir aos mesmos programas de televisão e ouvir a mesma música. Estudantes de moda no Japão e na Austrália podem ter gostos semelhantes.
Quantas vezes em viagem, foi fácil para mim entabular conversa com alguém de outra nacionalidade porque tínhamos as mesmas referências e crescemos a ver os mesmos programas de tv e a ouvir as mesmas músicas.
Claro que ainda existem diferenças, mas poucos negariam que o mundo está mais “pequeno” e que a televisão contribuiu em grande medida para isso.
No meu entender isto é positivo. Afinal se todos tivermos as mesmas referências compreendemos-nos melhor, certo? Devia de ser assim mas infelizmente, nem sempre é…
A televisão pode nos ter aproximado mas por outro lado mudou também as nossas expectativas. Mudou a maneira como vemos o mundo ao nosso redor e, de certa forma, como nos vemos a nós próprios.
A televisão influencia subtilmente o que pensamos sobre a nossa sociedade, as nossas instituições, e até mesmo o que pensamos sobre os nossos semelhantes.
Afecta, por exemplo, a forma como vemos policias, professores, advogados, donas de casa, políticos, etc, etc.
Já repararam que na televisão, os policias apanham sempre o bandido - geralmente em menos de uma hora, Então, pensamos nós, porque é que os nossos policias não conseguem fazer o mesmo? 😜
Muitos miúdos crescem a pensar que a fama no pequeno ecrã é tudo na vida, que a Casa dos Segredos ou o Keeping Up with the Kardashians é notável, importante ... ou interessante. E começam a acreditar que se entrarem num reality show tem a vida ganha, e se calhar até é verdade.
Digo isto sem qualquer tipo de preconceito. Cada um vê o que gosta e ninguém tem nada com isso. Afinal uma Kim Kardashian factura milhões e uma estrela de um reality show acabou de ser eleito Presidente dos Estados Unidos da América.
O problema é que nem todos podem ser uma Kim Kardashian ou um Donald Trump.
Nós sabemos que o mundo real não é assim, mas os mais novos, os que cresceram com o Big Brother e semelhantes podem pensar que sim e criar falsas expectativas. Pensar que não vale a pena estudar muito ou arranjar trabalho porque se entrarem num reality show vão ficar famosos e ganhar muito dinheiro.
Claro que isto é um exagero e que a educação dada pelos pais é sempre mais importante do que qualquer show televisivo, mas ainda assim a reality tv é um fenómeno interessante de observar.
Racionalmente, é fácil entender que é apenas entretenimento; Ninguém no seu juízo perfeito pensa realmente que tudo aquilo é real.
Mas eu não estou a falar de racionalidade aqui.
A verdade é que a reality tv atenuou a barreira entre a ficção e a realidade. Agora o que vemos na televisão não são apenas personagens de novela ou de qualquer série ficcional. Agora podemos seguir a vida de pessoas de carne e osso, pessoas “reais”.
Do Vietname, ao Brasil, de Inglaterra à África do Sul, este novo tipo de televisão prolifera e eu tenho curiosidade de saber como ela irá influenciar o mundo no futuro.
Antigamente, para algo passar na tv tinha de ser importante, relevante ou ter qualidade. Hoje em dia, isso transformou-se na crença de que algo é importante porque passa na TV.
Pode parecer a mesma coisa mas não é. Significa que podem colocar no ar o pior programa, reportagem ou artista de sempre que este adquire importância (ainda que efémera) porque passou na tv.
A televisão está a mudar a nossa percepção do que é importante no mundo, e eu não estou certa que isso seja uma coisa boa… Enfim, é esperar para ver.